O gesto dele chegou sem aviso. E talvez, justamente por isso, tenha feito o coração dela perder o compasso.
Miguel passou na ONG mais cedo naquele dia, e deixou sobre sua mesa um pacote embrulhado com cuidado. Nenhuma palavra, apenas um bilhete curto: “Vi isso e pensei em você. Sem compromisso. — M.”
Ela fingiu não notar. Fingiu que não se importava, que não havia lido aquilo mais de uma vez. Mas quando finalmente abriu o embrulho, encontrou uma paleta completa de tintas profissionais e um bloco de papel de aquarela que ela sonhava em ter. Era um mimo caro. Escolhido com cuidado.
Anyellen ficou imóvel por longos segundos. Aquilo não era só um presente. Era... atenção. Era escuta. Era tentativa. E ela odiava que isso mexesse tanto com ela.
Mais tarde, ele apareceu novamente. Silencioso, como se o gesto da manhã não existisse.
— Te ajudo a levar isso pra casa.
Disse, apontando para os documentos do projeto social.
Ela assentiu. Mas não respondeu com palavras. O silêncio dela ainda era e