Os primeiros dias na casa da Vitória, após a chegada de Leonardo, foram um borrão de uma beleza exaustiva. O mundo, antes vasto e cheio de batalhas corporativas e prazos de exposições, encolhera para os limites daquele santuário de vidro e madeira. O tempo já não era medido em horas ou dias, mas em ciclos de mamadas, sonecas e trocas de fraldas.
A euforia inicial do nascimento deu lugar à realidade implacável da paternidade. O sono tornou-se a mercadoria mais preciosa do mundo, mais rara que o mármore azul de Jacobina. Léo era um bebê saudável e forte, o que significava que seus pulmões também eram fortes e saudáveis, algo que ele fazia questão de demonstrar, principalmente entre as duas e as cinco da manhã.
Foi na escuridão da terceira noite que a primeira fissura apareceu na fundação de sua nova paz.
Léo chorava, um choro agudo e inconsolável que parecia ecoar em cada canto da casa silenciosa. Helena o embalava, o corpo dolorido, a exaustão tão profunda que parecia um zumbido constan