O silêncio era tão espesso que parecia ter peso.
O quarto estava envolto por um tipo de escuridão viva, não a completa ausência de luz, mas a penumbra úmida e densa que brotava das cortinas pesadas de veludo carmesim, vedando qualquer vestígio do mundo lá fora. Tapetes persas cobriam o chão como se quisessem abafar passos, segredos ou gritos. E no centro de tudo, como um suspiro contínuo da passagem do tempo, o tilintar regular do belo relógio de cristal ecoava pela imensidão da sala, cada segundo, um martelo contra a sanidade.
Sophie despertou com um sobressalto.
Seu corpo todo protestava, a dor espalhava-se como brasas acesas sob a pele, pulsando nas têmporas, latejando nas costelas, tensionando os músculos. Tentou se mover, mas o ruído metálico e súbito da corrente a impediu. Quando olhou para baixo, o coração bateu tão forte que chegou a machucar.
A algema ainda estava lá.
Fria, apertada, e cruelmente justa no tornozelo fino, o metal tinha deixado a pele vermelha, quase ferida.