As lágrimas voltaram a cair. Ela olhou para si mesma no espelho, os olhos vermelhos, o rosto machucado, a alma em frangalhos.— “Prometo te amar…” — murmurou, a voz embargada.— Mais alto.— Prometo te amar… na saúde e na doença.— Continua.— Prometo estar ao seu lado… em todos os dias difíceis.— E?— Prometo respeitar…— Obedecer — corrigiu Brian, aproximando a boca do ouvido dela. — Diga.— Prometo obedecer… suas decisões.— Isso. Agora diga que pertence a mim.— Eu…Ele apertou seus ombros com força.— Diga, Sophie.— Eu… pertenço a você.Brian sorriu no reflexo.E Sophie, diante de mil versões de si mesma, sentiu que uma parte dela havia morrido naquele momento.O silêncio que se seguiu após a última frase dita por Sophie parecia mais ensurdecedor que um grito.Ela mal reconhecia a própria voz.Ficou ali, estática, com os olhos cravados no reflexo, não apenas o seu, mas o dele atrás dela, como uma sombra eterna, um predador que se recusava a sair de cena. As mãos dele ainda pesa
Horas haviam passado desde que Brian saíra, e Sophie não sabia dizer quanto tempo exatamente. Podiam ter se passado minutos ou dias, o tempo ali dentro era um borrão estático, sem janelas, sem relógio, sem sol. Apenas as luzes frias acesas sobre sua cabeça e o reflexo mil vezes multiplicado de sua própria imagem, abatida, suja, sem qualquer dignidade.Sentada no canto da parede espelhada, com as pernas encolhidas contra o peito e os braços envolvendo o corpo, Sophie chorava baixinho. As lágrimas já não vinham com desespero. Vinham como um fluxo constante, silencioso, como se seu corpo tivesse se acostumado à dor. Chorava por ela, por Daniel, pela vida que foi arrancada como se nunca tivesse importado.O reflexo não mentia. Cada corte, cada hematoma, cada tremor, tudo era exibido como um espetáculo grotesco ao redor dela. Por que ele fazia tudo isso?Por que parecia amar e destruir na mesma medida?A maçaneta girando foi a única coisa que rompeu o transe. A porta se abriu devagar, e B
O dia estava propício para um passeio. Parecia que a escola de NortWester sabia disso ao marcar uma visita à reserva florestal da cidade, levando os alunos do 9º ano para uma atividade de biologia. A proposta era catalogar plantas estudadas ao longo do ano e registrar instantes da natureza, desde pássaros e insetos até paisagens encantadoras.De pé, no ônibus, a professora Clarissa, uma mulher de quarenta e poucos anos, passava as instruções: — Alunos, prestem bastante atenção. Não nos afastem do grupo, pois a reserva é extensa e temos horário para retornar. Vocês podem formar equipes de até cinco pessoas para tornarmos a atividade mais eficiente.Entre o grupo animado, destacava-se Sophie Lancaster, uma menina de 14 anos cuja energia contagiante e olhar curioso captavam cada detalhe do mundo ao seu redor. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caíam de maneira despretensiosa sobre os ombros, como se tivessem sido esculpidos pela própria natureza, combinando perfeitamente com su
Quando seus olhos finalmente encontraram o garoto, notou o quanto ele estava pálido, com os traços marcados pelo medo. Seus cabelos loiros, bagunçados, grudavam em sua testa suada, enquanto seus olhos se fechavam instintivamente, como se tentassem se proteger do terror que o dominava. Sem hesitar, Sophie alcançou o menino e, com firmeza, envolveu-o em seus braços, segurando-o com a segurança de quem já havia enfrentado muitos desafios.“Aguenta firme!”, bradou Sophie, a voz misturando urgência e cansaço. Ela conduziu o garoto para fora do ônibus, sempre focada, enquanto o grupo de alunos, agora acompanhado por professores, assistia em estado de alerta e desespero.Finalmente, quando seus pés tocaram o chão de fora, o grupo se mobilizou. Clarice correu para ajudar, enquanto Sophie, com o coração batendo forte, permanecia segurando o rapaz, certificando-se de que o pânico não voltasse a dominá-lo. Foi nesse exato instante, quando a adrenalina começava a ceder lugar à calma da segurança,
Os anos haviam passado, transformando a menina de olhar curioso e sorriso encantador em uma jovem determinada e cheia de sonhos. Sophie Lancaster, agora com 23 anos, era a herdeira de um império familiar construído com suor, dedicação e tradição e após estudar nas melhores escolas, concluir o ensino médio com distinção aos 17 anos e se formar em administração, curso que escolheu para honrar e cuidar dos negócios da família Lancaster, ela se via prestes a viver um dos dias mais importantes de sua vida: seu casamento com Daniel Moore, um homem apaixonante, que conhecera na faculdade e com quem havia construído uma história repleta de cumplicidade e afeto.A manhã do grande dia amanheceu com um brilho especial. O céu estava límpo e o sol, parecia abençoar a união, não havia um sinal de nuvem no céu. No elegante salão de um antigo casarão cercado por jardins bem cuidados, flores delicadas e arranjos que exalavam romantismo, os preparativos para a cerimônia seguiam com a perfeição de um so
A cerimônia de casamento se desenrolava como um conto de fadas moderno. O salão organizado para a festa, decorado com elegância, brilhava sob a luz suave das velas e dos lustres pendentes, enquanto os sorrisos e as lágrimas de felicidade dos convidados criavam uma atmosfera repleta de promessas e sonhos. Enquanto os convidados se entregavam nas danças e risadas, um som distante, mas cada vez mais ameaçador, começou a aumentar. O murmúrio de conversas e risos foi lentamente substituído por um silêncio carregado de apreensão. Do lado de fora do casarão, motores potentes rugiam e o som de passos firmes se aproximava, anunciando a chegada de algo.— Vocês ouviram isso? — perguntou uma madrinha, com a voz trêmula.— Deve ser apenas o trânsito lá fora... — respondeu alguém, tentando disfarçar o desconforto, mas os olhares de dúvida já diziam que algo estava muito errado.De repente, as grandes portas de vidro do salão foram quebradas e uma rajada de vento frio invadiu o ambiente decorado c
Enquanto o caos se espalhava, um segurança, que até então havia mantido uma postura contida, tentou intervir. Ele avançou em direção a um dos capangas que se aproximava de Daniel, mas foi facilmente contido por dois homens que, com movimentos precisos, o imobilizaram e o arrastaram para longe. Olhares se cruzavam em silêncio, e alguns poucos corajosos tentavam, mesmo que em vão, auxiliar o que restava de Daniel, que agora estava prostrado no chão, a respiração difícil e o olhar fixo no teto, como se buscasse uma última centelha de esperança. Um jovem, com voz embargada pela emoção, sussurrou para sua amiga:— Ele era tão cheio de vida... Como isso pôde acontecer?Sua amiga, sem conseguir conter as lágrimas, respondeu:— Nunca imaginei que um dia veríamos tamanha brutalidade num momento que deveria ser de celebração. Os murmúrios de desespero se espalhavam e a figura de Brian Hawk havia retornado no centro do caos, como se fosse o maestro de uma sinfonia macabra. Sophie havia sido t
O clima no recinto era de silêncio, interrompido apenas pelo soluço contido de alguns presentes e pelo eco distante de sirenes. Após a brutalidade que fizeram Daniel, o ambiente se transformou num cenário de luto. Os amigos e familiares, com os rostos marcados pelo horror, se mobilizavam para recolher o corpo gravemente ferido de Daniel, que agora estava em uma maca improvisada, coberto por um lençol branco manchado de sangue.Entre os presentes, Maria, mãe de Daniel, não conseguia conter o desespero e seus olhos, vermelhos de tanto chorar, varriam a cena. Ela se aproximou lentamente, como se cada passo tivesse toneladas e, com a voz trêmula, tentava suplicar aos que ali se encontravam:— Por favor, tragam-no para mim... Eu preciso vê-lo. Não pode ser que ele se vá assim, tão brutalmente...Um dos amigos mais próximos de Daniel, André, que estava ajudando a sustentar a maca, aproximou-se de Maria e, colocando a mão suavemente em seu ombro, disse:— Nós fizemos tudo o que pudemos para s