Livro 2 da Trilogia Jornadas do coração. Caleb Jones carrega no corpo cicatrizes de uma infância perturbada. Foi obrigado a encarar a dura realidade da rejeição desde muito jovem quando se viu abandonado pela própria mãe. Luta diariamente contra seus próprios demônios e em sua cabeça completamente perturbada não tem espaço para vida amorosa. O tão sonhado “Feliz para sempre” de muitos, não é o dele! A dor da perda o quebrará por completo, o transformando em sua pior versão, o fazendo libertar os demônios que ele tanto lutou para deixar encarcerados e trancados dentro de si. O controle é a única coisa que mantém sua mente sã e enraizada no mundo real. Ele tem tudo isso na palma da mão e abdicar disso não é uma opção a ele… Mas um par de olhos castanhos tirará seu mundo de órbita, o deixando de mãos atadas e coração entregue. Uma mulher doce e de língua afiada, mostrará o lado mais belo da vida, sem se importar com seu passado obscuro. Só resta saber se ele está pronto para enfim se entregar ao amor e aprender a conviver com as suas cicatrizes e demônios! “A cura não significa que a ferida nunca existiu. Significa que ela não controla mais nossa vida.”
Leer másO que te dá prazer na vida?
Se essa pergunta for feita para algumas pessoas normais irão responder o comum entre muitos: dinheiro, amor, saúde… Essas coisas básicas.Mas, para mim, é o controle! Nada me agrada mais do que ter o controle de tudo, bem na palma da minha mão.
Só funciono se for assim, meu mundo gira em torno disso e vivo muito bem dessa forma. Mesmo meu psicólogo dizendo o oposto!Sou movido de forma que tudo que acontece em minha vida é metodicamente controlado.
Não posso abdicar disso. Não se eu quiser continuar sobrevivendo e mantendo o resto de saúde mental que ainda tenho sob controle. Os demônios dos traumas, os malditos traumas, me cercam desde muito novo e fui obrigado a aprender lidar com eles sozinho.Aos três anos tive que engolir o medo, a solidão, o sentimento de rejeição e da culpa, para conseguir sobreviver nesse maldito mundo em que fui posto.Depois que uma criança passa por toda a merda que passei, é impossível sair sã de tudo isso. Isso deixa cicatrizes, que são invisíveis aos olhos, mas sinto cada uma delas doerem a cada segundo e me olhar no espelho é como ver um reflexo despedaçado, escondido por baixo da carcaça do famoso homem de negócios.
Muitos dizem que tive sorte por ser adotado por uma família boa, por ter me tornado um rapaz íntegro, inteligente e dono de uma das maiores empresas de publicidade do Brasil. E tudo isso antes dos 30 anos.Não concordo com nada disso, mas apenas aceito o fardo e agradeço por não morrer dentro daquela casa escura após ter ficado dias sem comer e completamente abandonado, a mercê da própria sorte. Mas, o que muitos não sabem é que entrar para a família Jones não é uma benção.
É um fardo que muitos não aguentaria.
Tento dispersar os pensamentos e bebo o último gole de whisky no copo, me levanto e volto a encher o copo no mini bar que possuo no escritório. Me sento novamente e olho o relógio em meu pulso, os ponteiros marcam 07h50.Os papéis em cima da mesa me lembram da entrevista que tenho marcada daqui a alguns minutos.
Pego as folhas novamente entre os dedos e avalio pela milionésima vez as informações que tem na primeira página de seu currículo.— Maria Eduarda… — sussurro.Formada com êxito e notas altas, estagiou numa empresa conhecido, dentre as primeiras do Brasil, depois da Jones.
O currículo foi indicação de uma funcionária que trabalha aqui há mais de 6 meses.Margareth, ou Maggie como gosta de ser chamada por muitos, começou como estagiária e mostrou um ótimo desempenho na equipe, o que fez sua efetivação vir mais rápido do que o habitual.
Ela passou semanas insistindo que a amiga seria uma ótima escolha para o cargo em aberto na empresa e depois de tanta insistência, resolvi ceder e chamar a garota para uma entrevista.
Geralmente, esse é o papel imposto para o setor de recrutamento da empresa, mas como o cargo é para trabalhar diretamente comigo, achei melhor eu mesmo conduzir a entrevista.
Termino de tomar minha bebida e coloco o copo no lugar dele, olho novamente o relógio constatando que o ponteiro acabou de bater 8h.— Ela está atrasa… — antes de prosseguir, ouço meu telefone tocando.Não preciso verificar para ter certeza de que é o ramal da recepção. Aperto o botão do alto-falante sem precisar tirar o telefone do gancho para atender.
— Bom dia, Valentina! — respondo, me recostando no encosto.
— Bom dia, chefe! — a voz dela sobe um tom de animação, me fazendo revirar os olhos.Não é segredo nenhum que ela tem atração por mim, mas não misturo o pessoal com o profissional.
E mesmo que não fosse por isso, duvido muito que o que procuro ela esteja disposta a me dar.
— A moça para entrevista chegou, posso pedir para entrar?
— Sim — respondo prontamente.Ela concorda e desliga a ligação.
Solto uma risada baixa e balanço a cabeça.— Se as pessoas realmente soubessem o que se passa em minha mente, duvido muito que iriam querer cogitar qualquer tipo de relacionamento comigo — falo, amargamente.
Me levanto e fico de frente para a enorme janela panorâmica que tenho na sala, coloco as mãos no bolso e aguardo a garota entrar.Aguardar…
Está aí uma coisa que nunca gostei. Sim, sou imediatista e sei que isso não é bom, pois me faz pensar em milhões de cogitações do que possa acontecer e isso me gera crise. E é exatamente por isso que não gosto de lidar com entrevistas. Muitas vezes esse estresse não valia o meu tempo.
Tiro as mãos do bolso e as cruzo para trás, impaciente. Já estou cogitando em ligar para Valentina, quando ouço alguns toques em minha porta.— Pode entrar! — Permaneço na mesma posição que estou. — Bom dia, Maria Eduarda, pode se sentar!Ouço os passos do salto dela no assoalho e aguardo até o barulho cessar, indicando que ela se sentou na cadeira.
— Bom dia, senhor Caleb. Tudo bem? Muito obrigada por me receber. — ela fala e percebo o nervosismo em sua voz.Sua voz é doce e desperta certa curiosidade em mim. Algo repentino de se acontecer. Opto por me virar e finalmente conhecer minha possível funcionária.
Nossos olhares se encontram, seus olhos são de um castanho mel e seu olhar curiosa me deixa um pouco desconcertado.Algo repentino também…
Desconheço essas sensações, há muito tempo que não tenho curiosidade por nada e muito menos ninguém. Desço os olhos rapidamente pelo seu corpo, suas pernas estão cruzadas e ela tem as mãos cruzadas sob os joelhos.
Consigo sentir o nervosismo e a tensão emanando dela. Já estou acostumado com isso, minha presença sempre gera essa tensão nas pessoas, é como meu repelente natural de seres humanos. É a única forma de manter todos longe o bastante de mim.
Ela engole em seco assim que meu olhar encontra o seu e ali, naquele instante, algo dentro da minha cabeça me alerta. Aquela vozinha no fundo da consciência que chamamos de autopreservação, me pede, não, na verdade, me implora para me manter longe dela, porque algo me diz que essa garota de olhos amendoados irá desgraçar ainda mais minha vida.
É uma pena que eu nunca dou ouvidos para essa voz.
Coitado do meu terapeuta.
Oito anos antes... A última coisa que eu vi, foram os olhos dele. Do meu irmão caçula, me agarrando e me implorando para não morrer. Senti suas lagrimas me molhando o rosto, conforme meu corpo se desligava de tudo e a escuridão me sugava para longe. Pensei que seria meu fim, que nunca mais veria meu irmão, ou a minha mãe e até mesmo o patife do meu pai. Mas, quando acordei num galpão, frio e úmido, jogado as traças pensei que estava no inferno. Que ali seria o meu purgatório. Mas estava muito longe de ser o meu próprio inferno. Seria pior do que isso, porque o inferno seria fichinha para o que me aguardava naquele lugar. A ferida da bala estava costurada de qualquer jeito e duvido muito que o cara que me costurou era médico. Até um açougueiro seria mais esperto que ele. — Você deve ter comprado a porra do seu diploma. — gemi, tentando não me mexer demais enquanto ele verificava a ferida. — Quieto. — o armário na minha frente falou. O médico deveria ter o tamanh
Acordei assustado, com algo sendo jogado na minha cara. — Acorda porra! — alguém gritou. Minha cabeça latejou e senti as têmporas doendo, devido à forte enxaqueca que me turvava a visão. Apertei os olhos, tentando enxergar onde eu estava, mas tudo que conseguia ver era a escuridão, há não ser por uma sombra, parada a alguns passos de mim. — A bela adormecida acordou. — a voz dele fez meus pelos se eriçarem, como o de um felino assustado. A voz do cara que eu mais admirava no mundo, agora, era a voz do meu algoz. Do meu agressor e do homem que tentou matar a mim e a mulher que eu amava. — Jason? — sussurrei, as palavras quase não saiam da minha boca. Tentei mexer os braços, mas foi em vão, balancei os punhos e ouvi o som de correntes. Só então a concepção de que estava algemado me assolou com força, o metal apertava ao redor tanto das minhas mãos, quanto dos meus pés, me impossibilitando de me mexer. Estava pendurado e além da voz dele, a única coisa que ouvia era um gote
— Não acho que seja uma boa ideia a senhorita ir. — Albert falou. — É muito perigoso e não sei ao certo o que vamos encontrar lá. — Ele coçou a cabeça, visivelmente preocupado. — Pelo que parece, é um lugar afastado e com seguranças. Apoiei as mãos no pescoço, olhando para o teto e pesando na balança se seria prudente eu ir. — Mesmo depois de você me ensinar tiro, defesa pessoal e eu ir com colete... — baixei os olhos para ele. — Mesmo assim, ainda seria perigoso? — Mordi a ponta da unha do meu indicador. Ele tombou a cabeça de lado, analisando. Começou a andar de um lado para o outro, sussurrando algo somente para ele, provavelmente pesando os prós e contras de tudo isso. — Iremos em cinco seguranças, além de você e alguns policiais que ficarão do lado de fora. — Ele parou de andar e se voltou para mim. — Você vai ter que seguir à risca todas as ordens que eu te der. — Ele me observava, o semblante sério. Albert levantou os dedos, enumerando cada coisa. — Um — Ele ergueu o
Já fazia 24 horas. Vinte e quatro horas desde o seu desaparecimento e não tínhamos a mínima noção do que havia acontecido com ele. A policia não conseguiu rastrear a picape preta, pois a placa era clonada e eles perderem o paradeiro dela assim que o irmão do Caleb entrou na avenida principal da cidade. Ele provavelmente trocou de carro. Estávamos num completo estado de choque. E o pior disso tudo, era que não podíamos ficar juntos. Albert conseguiu avisar a Scarlett, mas por segurança de todos, optamos em continuar separados. Por que claramente o foco deles era causar dor para o Caleb, não importa como. Albert ainda mantinha o Henrico — descobri o nome dele através do Albert — e mesmo após horas de violência, que eu preferi não ver, ele continuava não querendo falar. A única coisa que ele fez, foi cuspir na cara do Albert, mandá-lo se foder e dizer que a gente nunca mais veria o Caleb. Pelo menos, não com vida. E essa parte, acabou comigo. Ao ponto deu perder o cont
Não... Não! Não! Isso não podia estar acontecendo! Andava de um lado para o outro, dentro do maldito quarto do pânico. Mas sentia que era eu que estava em pânico. Sentia as paredes de titânio se fechando ao meu redor, meu peito doía, implorando por ar e sabia que estava tendo um ataque de pânico. Estava claustrofóbica ali dentro e tudo só piorou ainda mais, quando vi pelos monitores, eles pegando o Caleb. Lagrimas escorriam pelo meu rosto, embaçando minha visão, mas não bastante para me impedir de enxergar, enquanto eu os via carregando para fora. Totalmente desacordado. Pensei em sair do quarto, mas a ordem do mais alto me fez paralisar onde eu estava. — Revira a porra da casa inteira e a encontre! — Faço o que quando acha-la chefe? — o mais baixo perguntou. Na noite em que eles me esperavam ao lado do meu carro, o mais baixo usava um taco de beisebol, mas hoje ele vira muito bem armado. — Faz o que você quiser. — O mais alto deu de ombros. — Contanto que ela
Já haviam passado quase uma semana desde que levei um tiro. O lugar da bala ainda doía e os pontos ainda estavam lá. Mas aos poucos fui conseguindo voltar a fazer algumas coisas. Treinava tiro com o Albert todos os dias pela manhã e a tarde ensinávamos a Duda, com tiro e defesa pessoal. Ela era boa, aprenderá tudo muito rápido e se divertia com tudo. Claro, que não perdia a chance de me provocar. E a noite, aproveitávamos a companhia um do outro e sempre acabávamos transando no tapete, em frente a lareira. Ela dizia que a lembrava dos dias no chalé. Que nesses dias escuros, eram essas lembranças que a faziam manter a sanidade intacta e a esperança de que isso logo acabaria. Tínhamos um código nosso, toda vez que alguém entrava no chalé, depois de ter saído por algum tempo. — Delta entrando. — Albert falou, passando pela porta da frente. Usávamos o alfa, ômega ou delta, não tínhamos um codinome para cada um, mas tínhamos que falar uma das três palavras toda vez que en
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