PONTO DE VISTA DE TRENT Levei Elise pra dentro de casa.O lugar tava do jeito que eu deixei da última vez que estive ali — coberto de poeira, com aquele cheiro de madeira velha e memórias. Nada que ela merecesse. Então fui até a dispensa, achei um balde, pano, e comecei a dar um jeito na merda toda.Ela não disse nada, só me seguiu. Pegou um pano seco e foi tirando o pó dos móveis enquanto eu passava pano no chão. A gente não trocou uma palavra, mas o silêncio dizia tudo. O ar tava denso. Como se ela estivesse carregando o mundo nas costas.De vez em quando eu olhava pra ela. Os olhos perdidos, a expressão dura. Algo dentro dela tava gritando, e aquilo tava me matando devagar."O que tá errado, Amor?" perguntei, parando com o pano na mão.Ela me olhou, mas não respondeu de imediato. Caminhou até o sofá e se sentou com os ombros curvados, trazendo os joelhos pro peito como uma criança tentando se proteger do mundo."Estou preocupada com a minha mãe" sussurrou, a voz embargada. "Ela co
PONTO DE VISTA DE ELISETrent ainda estava lá fora, encostado em uma árvore, pensativo. A brisa mexia nos fios rebeldes do cabelo dele enquanto ele terminava de fumar, o olhar perdido em algum ponto além do rio. Sabia que aquela ligação tinha sido importante, que devia ter sido com Grave — dava pra ver no jeito como seus ombros carregavam um novo peso.Por dentro, meu peito ainda doía.Mas já era hora de parar.Prometi pra mim mesma, ali mesmo no sofá onde me deixei afundar antes: chega de chorar. Chega de me lamentar. Eu sempre fui uma chorona nos momentos difíceis. Mas agora… agora era diferente. Eu não podia mais ser só a garota assustada que se encolhe num canto esperando as coisas melhorarem. Não com ele ao meu lado. Se Trent era o rei dos Ceifadores, então eu precisava ser — e me comportar — como a rainha dele.E isso exigia mudanças.Levantei do sofá, fui até a cozinha, lavei os poucos pratos que restavam, finalizei a faxina com os panos de limpeza, organizei o que pude. A casa
Minha mão aperta ainda mais a arma."Quem é?" minha voz sai mais firme do que eu esperava. Tensa, mas não frágil.Silêncio.Mais uma batida. Dessa vez, duas."Eu perguntei quem é!" repito, mais alto, o coração socando meu peito.Do outro lado da porta, finalmente, uma voz rouca responde:"Eu vim em paz, moça. Só quero conversar."Engulo seco. A voz não me é familiar. Masculina. Cansada. Mas tranquila demais pra um estranho."Conversar com quem?" pergunto, firme, sem abrir."Com o Trent. Eu sabia que o encontraria aqui"Estreito os olhos."Ele não tá. Vai embora."Silêncio de novo. Puxei lentamente a cortina da porta da frente, o coração disparado e a respiração presa na garganta. Meus olhos focaram no homem que estava parado na varanda. Ele era alto, ombros largos, a pele bronzeada pelo sol e o cabelo loiro puxado para trás com um toque de pomada. Usava um terno caro, bem cortado, que não combinava nem um pouco com o cenário rústico da casa no meio do nada.Engoli em seco.Merda.Ele
A porta foi escancarada com um chute tão forte que quase saltou das dobradiças. Trent entrou como um furacão, com os olhos em chamas e o peito arfando. As sacolas de compras que estavam em suas mãos voaram para o chão. Ele não hesitou. "Desgraçado!" Ele rosnou. O soco veio rápido, certeiro, estalando na mandíbula de Darrion. O homem deu um passo para trás, cambaleando, mas não reagiu. Trent avançou, segurando-o pela gola da camiseta e o imprensando contra a parede. "Quem diabos te disse que eu estava aqui?!" ele rosto, o rosto tão próximo do pai que parecia prestes a explodir. "Foi a Sabine." respondeu Darrion, tentando manter a voz firme. "Aquela vadia." Trent riu, sem humor. "Então ela manteve contato com você esse tempo todo?! Me dizia que não sabia porra nenhuma e, na verdade, andava te escondendo?" Ele deu outro soco. Darrion gemeu, mas continuou sem revidar. "E eu? Seu único filho!" Trent rugiu. "Eu me tornei um adulto sem saber onde diabos você estava, sem entender por
"Mereceu mesmo" murmurei, cortando um pedaço do frango no meu prato. "Não é todo dia que alguém abandona um filho e depois aparece como se nada tivesse acontecido… depois de passar férias eternas no paraíso." Ele largou os talheres por um momento, os olhos fixos nos meus. Havia algo sincero ali. Algo doloroso. "Eu encontrei uma foto." A voz dele saiu baixa, rouca. "Há uns meses, estava limpando uma gaveta antiga quando achei uma fotografia dobrada. Era de mim, Trent e a mãe dele. "Devia ter muitos anos. Ele estava rindo, no colo dela. E eu… eu tinha esquecido aquele dia. Esqueci como ela olhava pra ele. Como me olhava." Ficou um momento em silêncio, engolindo em seco antes de continuar: "Ela morreu me odiando, Elise. E com razão. Eu falhei com ela. Falhei com meu filho. Eu... só queria consertar isso antes que seja tarde demais." Peguei minha taça de vinho e dei um gole longo. Trent havia comprado aquele vinho junto com as outras coisas. Senti o gosto amargo e doce se misturar
Trent olhou nos meus olhos. Havia raiva ali, mas também algo mais — talvez cansaço. De alma, não só de corpo."Eu não sei", ele respondeu, a voz rouca de exaustão.Virei meu corpo totalmente de lado. A luz da lua atravessava as frestas da cortina, desenhando linhas prateadas sobre a cama."Acho que vocês deveriam conversar", murmurei. "Ele mencionou algo sobre sua mãe… disse que ela morreu o odiando. O que ele quis dizer com isso?"Trent passou uma das mãos pelos cabelos, o gesto lento, como se procurasse paciência ou forças para relembrar."Não se engane por aquele rosto bonito", ele disse, a voz mais dura agora. "Minha mãe morreu de câncer. Quando eu era adolescente, ele a traiu dezenas de vezes. Ela sabia. Sempre soube. Mas amava ele… loucamente. Então, ela aceitava tudo. Aceitava os sumiços. As desculpas esfarrapadas. Os cheiros de perfume que não eram dela nas camisas dele. Aceitava tudo."Trent fez uma pausa longa, inspirando fundo."Quando ela descobriu o câncer, alguma coisa n
Descemos as escadas em silêncio. Darrion estava no sofá da sala, de braços cruzados."Vamos sair", Trent disse com a voz seca. "Tenho que resolver umas coisas no clube."Darrion levantou uma sobrancelha, desconfiado. "E eu?""Se quiser conversar, me segue com seu carro. Se não, fica por aqui."Não deu espaço pra resposta. Apenas passou pela porta e seguiu em direção à garagem. Eu fui atrás.Montei na moto atrás dele, ainda sem saber direito como me sentir. Não tomamos café. Quando entramos na estrada, o vento soprou forte nos meus cabelos, me obrigando a fechar os olhos por um instante. Era diferente agora. Dessa vez, consegui aproveitar o passeio. Não porque tudo estivesse bem. Mas porque, por algum motivo estranho, estar com Trent fazia tudo parecer... suportável.Meus braços ao redor da cintura dele. A estrada cortando a cidade. O ronco da moto vibrando embaixo de nós. E então, pelo retrovisor, peguei ele sorrindo. Não aquele sorriso provocador de sempre, mas um de canto de boca,
"Chega, mãe!" explodi. "Chega de bancar a vítima! Você quer reclamar do café, mas não apareceu quando levaram a Mel da gente! A única coisa que te interessava era sua bebida barata e suas noites sumida com sabe-se-lá-quem!"Ela me encarou, com os olhos marejando — mas não de tristeza. Era raiva. Desprezo. Ou talvez pura vergonha mal disfarçada."Quer saber? Nem quero mais saber onde você estava. Você falhou com a gente. De novo."Virei as costas, o peito arfando de tanta frustração.Foi quando Trent, que até então estava se segurando, deu um passo à frente e assumiu o comando."Você acabou de me desrespeitar na frente do meu clube inteiro, senhora. Mas vou fingir que não ouvi."A voz dele era dura, fria, quase ameaçadora. O silêncio na sala ficou denso. "Desrespeitar?" ela riu, mas o som saiu nervoso. "Você não manda em mim. Não pode me prender, seu merdinha tatuado!"O olhar de Trent escureceu. Ele fechou os punhos devagar, os músculos do braço se retesando. Grave se moveu um pouco a