Trent olhou nos meus olhos. Havia raiva ali, mas também algo mais — talvez cansaço. De alma, não só de corpo."Eu não sei", ele respondeu, a voz rouca de exaustão.Virei meu corpo totalmente de lado. A luz da lua atravessava as frestas da cortina, desenhando linhas prateadas sobre a cama."Acho que vocês deveriam conversar", murmurei. "Ele mencionou algo sobre sua mãe… disse que ela morreu o odiando. O que ele quis dizer com isso?"Trent passou uma das mãos pelos cabelos, o gesto lento, como se procurasse paciência ou forças para relembrar."Não se engane por aquele rosto bonito", ele disse, a voz mais dura agora. "Minha mãe morreu de câncer. Quando eu era adolescente, ele a traiu dezenas de vezes. Ela sabia. Sempre soube. Mas amava ele… loucamente. Então, ela aceitava tudo. Aceitava os sumiços. As desculpas esfarrapadas. Os cheiros de perfume que não eram dela nas camisas dele. Aceitava tudo."Trent fez uma pausa longa, inspirando fundo."Quando ela descobriu o câncer, alguma coisa n
Descemos as escadas em silêncio. Darrion estava no sofá da sala, de braços cruzados."Vamos sair", Trent disse com a voz seca. "Tenho que resolver umas coisas no clube."Darrion levantou uma sobrancelha, desconfiado. "E eu?""Se quiser conversar, me segue com seu carro. Se não, fica por aqui."Não deu espaço pra resposta. Apenas passou pela porta e seguiu em direção à garagem. Eu fui atrás.Montei na moto atrás dele, ainda sem saber direito como me sentir. Não tomamos café. Quando entramos na estrada, o vento soprou forte nos meus cabelos, me obrigando a fechar os olhos por um instante. Era diferente agora. Dessa vez, consegui aproveitar o passeio. Não porque tudo estivesse bem. Mas porque, por algum motivo estranho, estar com Trent fazia tudo parecer... suportável.Meus braços ao redor da cintura dele. A estrada cortando a cidade. O ronco da moto vibrando embaixo de nós. E então, pelo retrovisor, peguei ele sorrindo. Não aquele sorriso provocador de sempre, mas um de canto de boca,
"Chega, mãe!" explodi. "Chega de bancar a vítima! Você quer reclamar do café, mas não apareceu quando levaram a Mel da gente! A única coisa que te interessava era sua bebida barata e suas noites sumida com sabe-se-lá-quem!"Ela me encarou, com os olhos marejando — mas não de tristeza. Era raiva. Desprezo. Ou talvez pura vergonha mal disfarçada."Quer saber? Nem quero mais saber onde você estava. Você falhou com a gente. De novo."Virei as costas, o peito arfando de tanta frustração.Foi quando Trent, que até então estava se segurando, deu um passo à frente e assumiu o comando."Você acabou de me desrespeitar na frente do meu clube inteiro, senhora. Mas vou fingir que não ouvi."A voz dele era dura, fria, quase ameaçadora. O silêncio na sala ficou denso. "Desrespeitar?" ela riu, mas o som saiu nervoso. "Você não manda em mim. Não pode me prender, seu merdinha tatuado!"O olhar de Trent escureceu. Ele fechou os punhos devagar, os músculos do braço se retesando. Grave se moveu um pouco a
PONTO DE VISTA DE TRENTAssim que Elise saiu do meu escritório, levei alguns segundos respirando fundo, com os punhos ainda fechados. Ter que falar com ela daquele jeito sobre a própria mãe me corroía por dentro. Mas era necessário. Assim como o que vinha a seguir.Tínhamos uma barata pra esmagar.Sabine. A vadia achou que podia brincar com fogo e sair ilesa. Andava entregando informações do clube para meu pai. Aquele desgraçado desertor. E agora, com ele no salão, ela achou que seria a sombra perfeita pra se esconder.Mas não no meu clube.Peguei o celular no bolso e disparei uma mensagem simples.“Reunião. Agora.”Minutos depois, os passos pesados dos meus irmãos soaram pelo corredor. Um por um, eles entraram na sala.Ivar veio primeiro, caminhando devagar como um predador, girando a faca entre os dedos com uma calma. O aço cintilava sob a luz fraca, e o sorriso em seu rosto não prometia nada de bom.Cain apareceu logo atrás, com o colete de couro ajustado no corpo largo e as armas
PONTO DE VISTA DE ELISE"Anda logo, Troy, a gente precisa voltar antes que percebam." Termino de abaixar a saia do uniforme de garçonete do bar onde trabalho.Troy coloca a camisa, ajeita o cabelo desgrenhado e me lança um sorriso. Tento sorrir de volta, mas meu estômago está embrulhado. Sei que, quando sair desse depósito, vou encarar os olhares dos outros funcionários. Olhares de pena. E nojo.Ninguém sabe que estamos juntos há dois anos. Na verdade, ninguém sabe nem que eu existo fora daqui. Sou só a funcionária que, de vez em quando, desaparece com o chefe.Antes que ele abra a porta, respiro fundo."Quando você vai me apresentar pra sua família como sua namorada?"Troy congela. Me olha como se eu tivesse dito algo absurdo."Já falamos sobre isso, não falamos? Muito em breve você vai conhecer minha família."Seguro a alça da saia com os dedos, tentando não parecer tão decepcionada."Muito em breve..." repito, com um sorriso vazio. "Você disse isso há seis meses, Troy. E eu ainda s
O meu sangue ferve nas minhas veias, e eu sei exatamente o que elas estão pensando: que eu tenho regalias por ser "a preferida" do chefe. A dor da injustiça me queima por dentro, mas eu mantenho a expressão impassível. No fundo, eu sei que talvez elas tenham razão. Não porque eu queira esse tipo de vantagem, mas porque Troy nunca deixa claro para ninguém que estamos juntos. E isso me faz parecer exatamente o que elas pensam: uma funcionária que dorme com o chefe para ter privilégios. Talvez eu deva aceitar que ele nunca vá assumir nosso relacionamento. Talvez seja o preço que eu tenho que pagar para ficar com ele? *** Quando saio do bar, percebo que já é tarde. A rua continua cheia, com pessoas rindo e conversando animadamente nas calçadas. A noite está fresca, e o cheiro de álcool e fritura enche o ar. Caminho apressada até uma rua próxima, mas para encurtar o trajeto até meu apartamento, decido cortar caminho pelo beco. A iluminação é
Depois de dirigir por cerca de quinze minutos, finalmente cheguei ao bairro mais decadente da cidade. É o tipo de lugar que muita gente teria medo de passar à noite — prédios antigos, ruas escuras e entregas suspeitas em cada esquina.O coração aperta no peito toda vez que preciso vir até aqui, mas não tenho escolha.Estaciono o carro e respiro fundo antes de sair, tentando reunir coragem para enfrentar mais uma noite complicada.Subo as escadas mal iluminadas e passo pelo corredor estreito até a porta do apartamento. Antes mesmo de bater, ela se abre, e Mel aparece correndo, os braços estendidos na minha direção."Elise!" Ela pula nos meus braços, e eu a seguro com firmeza, aproveitando o breve momento de tê-la comigo."Ei, baixinha. Tá tudo bem?" questiono, acariciando seus cabelos.Ela hesita, mordendo o lábio, e olho para ela com um pouco de medo da resposta."A mamãe chegou faz uns cinco minutos..." Mel sussurra. "Está bêbada de novo."Solto um suspiro pesado, sentindo meu estôma
"Mel..." começo, tentando não deixar minha voz falhar. "Eu estou tentando ganhar mais dinheiro pra gente, lembra? E ficar aqui não vai ajudar nisso." Ela desvia o olhar, terminando de lavar as cenouras com cuidado. Sinto a culpa me corroendo por dentro. Eu queria poder pegá-la e levá-la comigo agora mesmo, mas não é tão simples assim. "Mamãe não é tão má." Mel sussurra, com um brilho de esperança nos olhos. "Ela só precisa de ajuda." Fecho os olhos por um momento, tentando não deixar a frustração transparecer. "Eu sei, baixinha... Sei que ela ama você. Mas... às vezes as coisas ficam difíceis pra ela, sabe?" digo, tentando encontrar um equilíbrio entre a verdade e a proteção. Mel suspira, enxugando uma lágrima que escapa de um de seus olhos. "Eu amo a mamãe também... mas eu quero morar com você." Ela admite, com a voz baixinha, me passando tristeza. Seguro sua mão, apertando-a de leve. "Eu sei, Mel. Eu também quero isso. E prometo que vou fazer o possível pra que isso aconteç