Um pensamento se alojou na minha mente como um espinho incômodo, cutucando, insistente, pedindo para ser dito em voz alta.Por que Simon odiava tanto Trent?Olhei para Maggie, que ainda mantinha os olhos fixos na porta por onde Scorpio havia desaparecido segundos antes, e respirei fundo. Me arrisquei."O que aconteceu entre eles, Maggie?"Ela virou lentamente o rosto na minha direção, como se pesasse se devia ou não contar. Ceylan também se calou. O ar entre nós ficou denso, como se o passado ainda assombrasse aquele salão cheio de vozes distantes."É uma longa história," começou Maggie, cruzando as pernas devagar, com um suspiro. "Mas vamos apenas dizer que... no mundo dos motoqueiros, às vezes, há mais regras silenciosas do que gritos de guerra.""Regras como o quê?" perguntei, mantendo os olhos presos nos dela."Como casamentos arranjados," ela respondeu. "Senhoras que são prometidas entre clubes, como moeda de troca pra manter a paz ou fortalecer alianças. Isso acontece mais do qu
PONTO DE VISTA DE ELISEUma semana havia se passado desde aquele dia no clube. Desde a última vez em que vi minha irmã no prédio onde Samanta estava. Desde que as coisas começaram a se mover de verdade, de um jeito que doía e, ao mesmo tempo, aliviava. Agora eu estava no bar onde eu trabalho. Mais precisamente, no escritório dos fundos, aquele com cheiro de couro e madeira antiga, onde Trent começou usar para resolver algumas coisas longe dos olhares curiosos dos irmãos.Ele estava encostado na bancada ao lado da geladeira, abrindo uma cerveja com o estalo típico que parecia combinar com o silêncio tenso da sala. Ao lado dele, Doyle, o advogado de confiança de Trent, folheava alguns papéis com cuidado, mas os dedos não paravam de bater levemente na borda da mesa. Nervoso. Eu percebia."Como estão indo as coisas, Doyle?" Trent perguntou, apoiando a garrafa aberta sobre a madeira maciça da mesa. Seu tom era direto, mas sem pressa. O tipo de voz que impõe presença, mesmo quando está em s
PONTO DE VISTA DE TRENTDeixei a mãe da Elise em uma das clínicas mais cara do país. O lugar era limpo demais, branco demais, quieto demais. Mas seguro. Se ela não se endireitar ali, não se endireita em lugar nenhum. Vi no olhar da Elise que doeu deixá-la, mesmo depois de tudo que a mulher fez com ela. Aquilo ficou martelando na minha cabeça.Depois, levei Elise até o bar. Ela insistiu que precisava trabalhar, ocupar a mente. Eu vi que ela estava cansada, mas não discuti. Só deixei Scorpio de sobreaviso."Ela não anda sozinha. Aonde for, você vai junto. Entendido?"Scorpio apenas assentiu. Sabe que comigo é ordem, não pedido.Voltei pro clube, fui direto pro meu quarto. Me joguei na cama, braços atrás da cabeça, o cigarro aceso queimando devagar entre meus dedos. Não consegui relaxar. Minha mente estava agitada, cheia de merda rodando. A conversa de dias atrás com Scorpio ainda martelava em minha mente.Todos sabiam. Que eu reivindiquei Elise como minha.Foda-se.Ela é minha. Minha se
PONTO DE VISTA DE ELISE"Anda logo, Troy, a gente precisa voltar antes que percebam." Termino de abaixar a saia do uniforme de garçonete do bar onde trabalho.Troy coloca a camisa, ajeita o cabelo desgrenhado e me lança um sorriso. Tento sorrir de volta, mas meu estômago está embrulhado. Sei que, quando sair desse depósito, vou encarar os olhares dos outros funcionários. Olhares de pena. E nojo.Ninguém sabe que estamos juntos há dois anos. Na verdade, ninguém sabe nem que eu existo fora daqui. Sou só a funcionária que, de vez em quando, desaparece com o chefe.Antes que ele abra a porta, respiro fundo."Quando você vai me apresentar pra sua família como sua namorada?"Troy congela. Me olha como se eu tivesse dito algo absurdo."Já falamos sobre isso, não falamos? Muito em breve você vai conhecer minha família."Seguro a alça da saia com os dedos, tentando não parecer tão decepcionada."Muito em breve..." repito, com um sorriso vazio. "Você disse isso há seis meses, Troy. E eu ainda s
O meu sangue ferve nas minhas veias, e eu sei exatamente o que elas estão pensando: que eu tenho regalias por ser "a preferida" do chefe. A dor da injustiça me queima por dentro, mas eu mantenho a expressão impassível. No fundo, eu sei que talvez elas tenham razão. Não porque eu queira esse tipo de vantagem, mas porque Troy nunca deixa claro para ninguém que estamos juntos. E isso me faz parecer exatamente o que elas pensam: uma funcionária que dorme com o chefe para ter privilégios. Talvez eu deva aceitar que ele nunca vá assumir nosso relacionamento. Talvez seja o preço que eu tenho que pagar para ficar com ele? *** Quando saio do bar, percebo que já é tarde. A rua continua cheia, com pessoas rindo e conversando animadamente nas calçadas. A noite está fresca, e o cheiro de álcool e fritura enche o ar. Caminho apressada até uma rua próxima, mas para encurtar o trajeto até meu apartamento, decido cortar caminho pelo beco. A iluminação é
Depois de dirigir por cerca de quinze minutos, finalmente cheguei ao bairro mais decadente da cidade. É o tipo de lugar que muita gente teria medo de passar à noite — prédios antigos, ruas escuras e entregas suspeitas em cada esquina.O coração aperta no peito toda vez que preciso vir até aqui, mas não tenho escolha.Estaciono o carro e respiro fundo antes de sair, tentando reunir coragem para enfrentar mais uma noite complicada.Subo as escadas mal iluminadas e passo pelo corredor estreito até a porta do apartamento. Antes mesmo de bater, ela se abre, e Mel aparece correndo, os braços estendidos na minha direção."Elise!" Ela pula nos meus braços, e eu a seguro com firmeza, aproveitando o breve momento de tê-la comigo."Ei, baixinha. Tá tudo bem?" questiono, acariciando seus cabelos.Ela hesita, mordendo o lábio, e olho para ela com um pouco de medo da resposta."A mamãe chegou faz uns cinco minutos..." Mel sussurra. "Está bêbada de novo."Solto um suspiro pesado, sentindo meu estôma
"Mel..." começo, tentando não deixar minha voz falhar. "Eu estou tentando ganhar mais dinheiro pra gente, lembra? E ficar aqui não vai ajudar nisso." Ela desvia o olhar, terminando de lavar as cenouras com cuidado. Sinto a culpa me corroendo por dentro. Eu queria poder pegá-la e levá-la comigo agora mesmo, mas não é tão simples assim. "Mamãe não é tão má." Mel sussurra, com um brilho de esperança nos olhos. "Ela só precisa de ajuda." Fecho os olhos por um momento, tentando não deixar a frustração transparecer. "Eu sei, baixinha... Sei que ela ama você. Mas... às vezes as coisas ficam difíceis pra ela, sabe?" digo, tentando encontrar um equilíbrio entre a verdade e a proteção. Mel suspira, enxugando uma lágrima que escapa de um de seus olhos. "Eu amo a mamãe também... mas eu quero morar com você." Ela admite, com a voz baixinha, me passando tristeza. Seguro sua mão, apertando-a de leve. "Eu sei, Mel. Eu também quero isso. E prometo que vou fazer o possível pra que isso aconteç
O caminho até meu apartamento parece mais longo do que o normal, talvez porque meus pensamentos estejam distantes. Quando finalmente estaciono o carro na frente do prédio, um arrepio percorre minha espinha ao notar uma figura familiar parada na calçada. Troy está ali, com os braços cruzados e uma expressão que mistura irritação e impaciência.Desço do carro, tentando controlar a tensão que se instala no meu corpo. Assim que me aproximo, ele se inclina e me puxa para um beijo intenso e possessivo, como se quisesse deixar claro para qualquer um que estivesse olhando que eu sou dele.Empurro-o levemente pelo peito, desviando o rosto."Troy, já falei que não gosto desse tipo de exposição." Minha voz sai firme. "Você não precisa marcar território."Ele revira os olhos, claramente incomodado com minha resistência."Você é minha namorada, e isso é tudo o que importa. Quero que todos saibam disso." Ele arqueia uma sobrancelha. "E por que não atendeu minhas ligações?"Até ontem ele não queria