O dia amanheceu cinza, denso como se carregasse no ar a expectativa de algo que ninguém sabia nomear. A chuva caía fina desde as primeiras horas da manhã, tamborilando nos vidros da cobertura como uma pulsação contida. Helena acordou sem pressa. Não porque estivesse tranquila, mas porque já sabia o que precisava fazer.
Arthur ainda dormia, o corpo levemente virado para o lado onde ela estivera. Helena o observou por um momento. Havia algo de vulnerável em vê-lo assim: desarmado. O cabelo bagunçado, a respiração profunda. Um homem que ela amava e temia perder ao mesmo tempo.
Ela se levantou em silêncio. Foi até a sala, sentou-se no sofá com o caderno no colo e olhou para as duas cartas que estavam sobre a mesa de centro. Uma era a do pai, dobrada com cuidado e relida tantas vezes que já tinha marcas de manuseio nos cantos. A outra era sua. Escrita nos últimos dias, em pedaços de madrugada, enquanto ele dormia a poucos metros dali.
Ela pensou em reler. Em ajustar algum trecho, em suaviz