O sábado amanheceu cinzento, como se Londres também não tivesse dormido.
Helena acordou no sofá, encolhida debaixo de uma manta que nem lembrava de ter puxado.
A carta do pai ainda estava sobre a mesa, a caligrafia dele ainda pulsando na memória como um eco que doía.
Ela estendeu a mão e tocou o papel, sentindo a respiração falhar.
Por um instante, quase desejou ter deixado o envelope fechado.
Era mais fácil acreditar que sabia quem era o vilão.
Mais fácil sustentar o ódio do que encarar a culpa.
Mas agora tudo parecia mais complicado.
E mais verdadeiro.
Ela fechou os olhos, tentando encontrar dentro de si a mulher que chegara a Londres tão certa do que queria.
Aquela que repetia como um mantra que Arthur Valente merecia pagar por tudo.
Mas essa mulher parecia ter desaparecido ontem à noite.
Quando ele encostou os lábios nos dela.
Quando o mundo sumiu e restou só aquela certeza devastadora:
Que ele nunca fora apenas o inimigo.
E talvez nem fosse inimigo algum.
O cheiro de café vindo d