Amém

Então eu só disse:

— Eu comecei a tomar anticoncepcional.

Ouvi o silêncio dela do outro lado. Um silêncio espesso, como se ela tivesse prendido a respiração.

— É por isso que a mamãe tava tão brava ontem? — ela perguntou, num tom mais baixo, quase infantil.

Assenti, mesmo sabendo que ela não podia me ver.

— Sim.

Ela não respondeu de imediato. Depois, a voz dela saiu mais firme, meio urgente:

— Vai se arrumar. A gente precisa ir logo.

Não discuti. Não valia a pena.

Me arrastei pra fora da cama, vesti qualquer roupa decente e prendi o cabelo com uma pressa que não combinava com a minha vontade. Não sabia se estava indo pra um culto ou pra um tribunal. Mas, conhecendo o meu pai, talvez fosse os dois.

Não passei maquiagem. Olhei o rosto no espelho, o inchaço, a marca vermelha, a ponta da boca ferida, e deixei como estava. Não por descuido. Foi escolha. Eu queria que vissem. Que soubessem. Que entendessem que o homem do púlpito não era santo. Era só mais um covarde que batia qua
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