A mansão dos DeLuca iluminava-se em tons dourados naquela noite. O portão de ferro se abriu lentamente, e o carro que trazia Rose percorreu o caminho ladeado por ciprestes antigos. O coração dela estava em disparada. A vida inteira ouvira que aquele seria o seu destino: casar-se com Martin DeLuca, o caçula da família mais poderosa da máfia. Mas agora que o momento finalmente chegara, tudo parecia diferente.
Ela desceu do carro com passos hesitantes, o vestido leve balançando junto com seu nervosismo. O jantar esperava. As lembranças da última vez que estivera naquela mesa comprida não era muito boas, e por dentro sua mente era um turbilhão.
Martin tinha chegado da Alemanha naquele dia para fechar o acordo de casamento, e o olhar que lançou a Rose foi imediato e intenso ao entrar na sala de jantar e sentar ao seu lado, ele parecia fascinado, quase hipnotizado por sua beleza.
Rose, porém, não conseguia sustentar aquele olhar. Cada vez que tentava encarar seus olhos, uma sombra a puxava para lembranças proibidas — lembranças de Frank.
Sentou-se à mesa, rígida, desejando desaparecer. Seu pai, Antônio Vitale, sorria satisfeito, conversando animadamente com o Sr. DeLuca sobre planos futuros, como se a vida de Rose fosse apenas mais um acordo de negócios.
Martin, ao lado dela, se inclinou levemente:
— Quer mais alguma coisa?
Ela respondeu rápido, sem graça:
— Não… obrigada.
Ele sorriu, com uma calma que a desconcertava.
— Tenho muitos planos para nós, Rosalie… Ah, desculpe, você prefere que eu a chame de Rose, não é?
Rose respirou fundo.
— Sim. Pode ser.
Martin continuou, confiante e doce ao mesmo tempo:
— Você vai gostar da nossa casa na Alemanha.
Rose manteve a educação:
— Tenho certeza que sim.
No silêncio que seguiu, sua mão repousava sobre a mesa. De repente, Martin pousou a mão sobre a dela. Rose levou um susto, quase recuando instintivamente. O gesto simples a transportou de volta aos momentos em que Frank a puxava com força, sempre impondo sua presença.
— Desculpe, não queria assustá-la — Martin disse, rápido, retirando a mão.
Rose o encarou pela primeira vez. Ele tinha um rosto firme, traços belos e um olhar sincero. Um homem que parecia ser tudo o que ela deveria querer. E, ainda assim, por dentro, ela se sentia em pedaços.
“Não posso enganá-lo… Estou perdida”, pensou.
— Não precisa se desculpar — respondeu baixo, tentando esconder a confusão que a corroía.
O jantar terminou, e Martin se levantou.
— Gostaria de conversar melhor com você. Podemos ir até a biblioteca?
Rose assentiu, acompanhando-o. A biblioteca dos DeLuca era imponente, com paredes cobertas de livros antigos e o perfume amadeirado do mobiliário. Rose, maravilhada, sussurrou:
— É linda… nunca tinha entrado aqui.
— Está na nossa família há gerações — ele respondeu, apoiando-se na mesa de madeira maciça.
O silêncio pairou por um instante, até que Martin, com seriedade, perguntou:
— Rose… sei que isso é constrangedor, mas preciso perguntar. Você realmente quer casar comigo?
Ela ficou imóvel. O coração disparou.
— Não quero que você se case comigo só por causa do contrato — ele continuou, firme. — Quero que você case comigo porque deseja isso.
O silêncio parecia eterno. Rose respirou fundo, tomou coragem e deu alguns passos até ficar diante dele.
— Eu quero casar com você — respondeu, mesmo que suas palavras soassem como um peso em sua própria boca.
Os olhos de Martin brilharam. Ele se aproximou, acariciando de leve o rosto dela. Rose fechou os olhos, rendida ao gesto de ternura. Então, sem pensar, foi ela quem tomou a iniciativa: aproximou os lábios e o beijou.
Martin correspondeu, envolvendo-a com cuidado, num abraço cálido, seguro. Rose sentiu-se protegida, mas ao mesmo tempo, dentro de si, sabia: não era mais a mesma.
Porque o fantasma de um beijo proibido — o de Frank — ainda queimava em sua memória.