Christian Müller –
Os lençóis tinham cheiro de perfume e loucura. Me deixei cair como se o veneno já estivesse fazendo efeito.
Como se o meu corpo tivesse rendido.
Mas eu estava ali.
Cada célula minha estava em estado de alerta. Fingindo estar inconsciente, mas vendo, ouvindo, sentindo tudo.
Maria não disse nada de imediato. O silêncio dela foi o mais perturbador.
Ouvi o farfalhar do tecido. Seus passos descalços no carpete.
E então senti.
Seus dedos tocaram meu peito, vagarosamente, com a ponta das unhas traçando linhas invisíveis por dentro da minha camisa. O botão foi desfeito com calma. Depois o segundo. O terceiro...
Ela abriu minha camisa como quem desembrulha um presente roubado.
— Sempre assim... tão bonito. Tão forte. Meu. — Murmurou ela.
Eu sentia o toque dela como uma faca sem corte. Ela acariciava meu peito com lentidão, como se quisesse memorizar cada linha da minha pele. Como se minha pele fosse dela.
E então veio o beijo.
Seus lábios tocaram os meus.
Secos. Frios. Vãos.