A sala estava mergulhada no som suave das teclas e do papel sendo virado. Helena organizava os relatórios com uma concentração que me irritava e atraía na mesma medida. O cabelo caía em mechas soltas, deslizando pelo rosto, e ela as afastava com aquele gesto automático que eu já reconhecia de longe.
De onde estava, podia observar sem ser notado. Ou quase. Ela sempre parecia sentir meu olhar, porque erguia os olhos do nada, me encontrava por um segundo, e desviava como se tivesse cometido um erro.
— Esses números são da última reunião? — perguntei apenas para quebrar o silêncio, aproximando-me devagar.
— São, senhor Vasconcelos. — respondeu sem tremer na voz, mas percebi o deslize dos dedos, apertando o canto da folha com força demais.
Inclinei-me para pegar um dos relatórios, sentindo o perfume dela se misturar ao papel novo. Helena respirou fundo, tentando disfarçar. Não consegui evitar o sorriso breve.
— Está ficando cada vez mais eficiente, Helena. — murmurei, entregando-lhe o pape