7

Horta, Animais e Risos Descontrolados

O sol ainda brilhava timidamente quando despertei, o aroma da lenha queimando misturado ao cheiro fresco do campo me trazendo à realidade.

Laura dormia calmamente, e eu, enrolada no cobertor fino, olhei ao redor da pequena casa de caça, lembrando-me de cada canto que Henry me havia mostrado.

A rusticidade do lugar, que antes me causava receio, agora começava a parecer familiar, mesmo que cada nova manhã trouxesse uma dose de desafios que minha vida urbana jamais havia imaginado.

— Bom dia, Letícia. Disse Henry, surgindo da cozinha com uma caneca de café fumegante, os olhos semicerrados de sono e um sorriso de canto, aquele sorriso que já começava a me desarmar.

— Pronta para a horta?

— Horta? Perguntei, tentando controlar a voz que transparecia incredulidade.

— Henry, ontem eu quase me queimei com o fogão e fui atacada pelas galinhas.

O galo achou de defender suas esposa, e uma galinha choca correu atrás de mim pensando que eu iria pegar seus filhotes guardados dentro dos ovos.

Resultado:

Tive que correr em círculos dentro do galinheiro com um bando de galinhas cacarejando, uma confusão.

Até que Henry ouviu a confusão e me salvou.

—Hoje é horta?

— Exatamente. Respondeu ele, depositando a caneca sobre a mesa de madeira.

— E você vai aprender que plantar, regar e colher exige paciência…

—E alguma habilidade que você ainda não demonstrou.

Suspirei, mas me levantei, carregando Laura no colo.

A criança parecia alheia ao caos que me aguardava, e seu semblante tranquilo me deu coragem para encarar mais um dia de provações rurais.

Henry havia providenciado um carrinho de bebê muito confortável para ela.

Assim ela estava sempre a meu alcance, mas claro em uma distância segura, pois esse lugar e cheio de armadilhas e animais malucos.

Caminhamos até a horta, e percebi que Henry já havia preparado o terreno.

Fileiras de vegetais cuidadosamente plantadas, mas com algumas ervas daninhas tentando tomar conta do espaço.

Ele me entregou uma enxada e explicou, com paciência e humor:

— Aqui, Letícia, a regra número um é não arrancar o que não deve.

—A regra número dois é não reclamar.

—E a regra número três…

— Bem, a regra número três é sorrir, mesmo quando tudo der errado.

— Sorrir! Repeti, segurando a enxada com força.

— Fácil de dizer, difícil de fazer quando uma minhoca insiste em escapar pelo solo em minha direção.

Henry riu baixinho:

— Você ainda vai se acostumar com essas…

—Pequenas criaturas do campo.

— Elas não mordem…

—Quase nunca.

Não passei nem cinco minutos tentando arrancar algumas ervas daninhas antes que o primeiro conflito acontecesse.

Uma galinha, aparentemente com raiva de eu estar tão perto, bicou minha bota.

Dei um pulo, soltando um grito abafado, e Henry não conseguiu segurar o riso.

— Cuidado! Gritei, tentando manter a compostura.

— Essa galinha…

—Ela me atacou!

— Achou que seria fácil? Disse ele, sorrindo.

— Bem-vinda à vida rural.

Enquanto eu brigava com as galinhas e tentava manter o controle sobre a enxada, Henry me observava de longe, cruzando os braços e com aquele olhar divertido que me deixava irritada e ao mesmo tempo estranhamente atraída.

— Você parece uma bailarina desengonçada. Comentou, finalmente, aproximando-se.

— Mas pelo menos está tentando.

— Bailarina desengonçada? Repeti, bufando.

— Ah, ótimo, agora estou virando piada também!

Ele deu de ombros, o sorriso provocador nunca deixando seu rosto:

— Só estou documentando o espetáculo rural da cidade grande.

Engoli em seco, sentindo a mistura de frustração e divertimento subir dentro de mim.

Cada pequeno fracasso, cada galinha rebelde, se transformava em motivo para risadas, e mesmo com a dificuldade, comecei a perceber que aquele ritmo tinha seu próprio encanto.

— E quanto à rega? Perguntei, tentando mudar de assunto e buscando algum senso de controle.

Henry me entregou um balde cheio de água, e ao tentar derramá-la sobre a horta, escorreguei em uma pedra molhada, molhando parte de minhas roupas e derrubando um pedaço de terra sobre a cabeça de Laura.

— Oh, não! Exclamei, desesperada.

— Estou destruindo tudo!

Henry caiu na gargalhada, segurando-se na lateral da horta para não cair:

— Isso é ouro! Nunca vi alguém fazer tanto caos com tanta intenção!

— Intenção de quê? Perguntei, enxugando o rosto molhado.

— De transformar a horta em um campo de batalha?

— Exatamente! Respondeu ele, ainda rindo.

— E você está indo muito bem.

Mesmo irritada, não pude deixar de rir junto.

Havia algo viciante naquele contraste entre a minha vida urbana, cheia de regras e controles, e a imprevisibilidade total do campo.

Cada galinha, cada minhoca, cada tronco de lenha parecia conspirar para testar minha paciência, e Henry parecia se divertir tanto quanto eu.

Após a horta, Henry decidiu que eu precisava aprender a lidar com o porco que morava no chiqueiro.

Ele era grande, roncava alto e tinha um olhar que misturava curiosidade e desdém por mim.

Quando tentei alimentá-lo, o animal avançou, derrubando parte da comida e me fazendo dar um passo para trás, tropeçando novamente.

— Cuidado! Gritei, segurando o balde.

— Esse porco é um monstro!

— Monstro? Henry disse, rindo baixinho.

— Ele só é…

—Exigente.

— Exigente? Repeti, virando-me para ele com indignação.

— Se esse animal tivesse I*******m, ele seria famoso por ser um influencer da arrogância!

Henry caiu na gargalhada, segurando a barriga:

— Você tem cada comentário, Letícia é quase terapêutico.

— Terapêutico? Murmurei, respirando fundo e tentando recuperar a compostura.

— Só se for para desenvolver minhas habilidades de sobrevivência urbana no campo!

O dia passou em uma mistura de risos, pequenas frustrações e conquistas mínimas.

Aprendi a regar a horta sem escorregar, a lidar com as galinhas sem gritos exagerados e a entender, aos poucos, o temperamento peculiar do porco.

Henry continuava observando, provocando, mas de forma sutil, sempre com aquele humor que misturava ironia e aprovação silenciosa.

Ao final da tarde, sentei-me na varanda, exausta, enquanto Laura dormia de novo.

Henry veio se sentar ao meu lado, silencioso, observando o céu tingido de laranja e rosa.

Por um instante, o silêncio entre nós não precisava de palavras.

— Então você sobreviveu ao caos do dia. Disse ele, finalmente.

— Estou impressionado.

— Sobrevivi. Respondi, sorrindo de lado.

— Mas não sei se sobreviverei amanhã.

— Não se preocupe. Disse Henry, desviando os olhos para mim, um brilho divertido nos olhos.

— Amanhã terá novos desafios.

—E novas oportunidades de me provocar.

— Novas oportunidades? Repeti, arqueando a sobrancelha.

— Ah, ótimo, você vai se divertir às minhas custas de novo?

— Talvez. Respondeu ele, piscando.

— Mas admito que seu humor ajuda a passar o dia.

—É contagioso.

Senti meu coração bater mais rápido, uma mistura de frustração, diversão e atração que se tornava cada vez mais intensa.

O campo, que antes me parecia um lugar hostil e isolado, agora era cenário de uma dinâmica que desafiava não apenas minhas habilidades, mas também minhas emoções.

Enquanto o céu escurecia e as primeiras estrelas surgiam, percebi que cada dia no campo, por mais difícil que fosse, trazia também momentos de alegria inesperada, de riso compartilhado e de conexão silenciosa com Henry.

E, entre galinhas, minhocas, lenha e porcos exigentes, eu começava a entender que o campo não só testava meu corpo, mas também provocava minhas emoções de formas que eu nunca imaginara.

O dia terminou com uma sensação estranha de cansaço e satisfação.

Eu estava suja, cansada, mas havia algo viciante na rotina rústica e no jogo silencioso que Henry e eu começávamos a criar.

Ele não era apenas um professor do campo,

Era um provocador, um observador e, de forma sutil, alguém que me fazia rir mesmo quando tudo parecia desmoronar.

E, naquele primeiro dia completo de verdade, percebi que a vida rural, com seus desafios e humores imprevisíveis, poderia ser tão fascinante quanto aterrorizante.

Mas, acima de tudo, ele estava me ensinando uma lição que eu não esperava:

A capacidade de rir de mim mesma, de me adaptar e, talvez, de me apaixonar por algo, ou alguém, que não fazia parte do meu mundo urbano.

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