8

Primeiros Passos de Afeto

O sol já começava a baixar quando entrei na sala da casa de Letícia.

O ambiente era simples, mas carregado de vida:

Brinquedos espalhados pelo tapete colorido, desenhos infantis pregados na parede e uma energia suave que contrastava com o vazio que o luto costuma deixar.

Laura estava ali, sentada no chão com um ursinho de pelúcia entre as mãos pequenas. Seus cabelos castanhos claros formavam cachos rebeldes que balançavam cada vez que ela virava a cabeça. Os olhos, grandes e curiosos, buscavam entender um mundo que ainda lhe parecia tão imenso.

Ela tinha apenas dois anos. Pequena demais para compreender a ausência definitiva da mãe, mas grande o bastante para sentir a falta do colo, da voz suave, do cheiro que acalentava seus sonhos.

Letícia, tentando manter a rotina, organizava algumas coisas na cozinha, deixando-me ali com a menina. Eu não sabia exatamente o que fazer. Não era meu papel substituir ninguém, mas, de alguma forma, percebia que a vida me colocava diante de uma missão silenciosa:

Estar presente.

Laura me olhou de relance e, por instantes, apenas me observou, como se quisesse medir quem eu era dentro daquele espaço que, até então, era só dela e da irmã.

— Oi, pequena. Murmurei, agachando-me ao nível dela.

— Esse é o seu ursinho?

Ela apertou o brinquedo contra o peito e, em seguida, estendeu-o na minha direção.

Aquele gesto simples me desarmou.

Peguei o ursinho com cuidado, fingindo examiná-lo como se fosse um objeto precioso.

— Ele parece muito importante. Comentei, devolvendo-o.

Laura sorriu tímida, um sorriso curto, mas cheio de vida, e se aproximou mais um pouco.

O silêncio foi preenchido pelo barulho suave de seus passinhos curtos pelo tapete, até que ela encostou a cabecinha no meu joelho, como quem pede permissão para ficar.

Senti um nó na garganta.

Havia uma pureza desarmante naquela criança, uma vulnerabilidade que me fazia querer protegê-la.

Passei a mão devagar por seus cabelos macios, e ela fechou os olhos, aceitando o gesto.

Letícia apareceu na porta, segurando uma caneca de chá.

O olhar dela capturou a cena em silêncio.

Vi em seus olhos uma mistura de surpresa e gratidão.

— Ela não costuma se aproximar assim de estranhos. Disse Letícia, com um sorriso delicado.

— Mas, pelo visto, você conquistou a confiança dela.

— Não sei se conquistei. Respondi, ainda acariciando os cabelos da pequena.

— Acho que ela é quem está me ensinando a como chegar perto.

Letícia se aproximou e se sentou no sofá, observando a irmã brincar novamente ao meu lado.

Seus olhos marejaram.

— Laura ainda chama pela mamãe às vezes…

—Principalmente à noite.

— Sua voz saiu embargada.

— Eu tento ser forte, mas é difícil.

— Tenho só dezoito anos, Henry.

—De repente, virei responsável por uma vida inteira.

Olhei para ela com seriedade.

Entendia o peso que aquelas palavras carregavam.

Não era apenas a dor do luto, era o fardo da responsabilidade assumida cedo demais.

— Você está sendo incrível, Letícia.

— Falei firme, para que ela acreditasse.

— Eu vejo nos olhos dela que você é o porto seguro dela.

Laura, como se entendesse aquela conversa, ergueu os braços para mim, pedindo colo.

Por um segundo, hesitei.

Não tinha segurado uma criança tão pequena nos últimos anos.

Mas, ao vê-la insistir com aquele gesto doce, cedi.

Peguei-a no colo com cuidado.

Ela se acomodou contra meu peito, pequena, leve, com um cheiro adocicado de sabonete infantil.

O calor de seu corpinho transmitia uma paz que eu não lembrava de sentir havia muito tempo.

— Ela gosta de você. Disse Letícia, emocionada.

— Eu também gosto dela. Sorri, beijando de leve o topo da cabecinha cacheada.

Naquele instante, percebi algo que me atravessou fundo:

Não era apenas Laura que estava começando a confiar em mim.

Eu também estava permitindo que aquela criança, com seus dois anos e seu jeito inocente de existir, derrubasse os muros que eu construí ao redor do meu coração.

Era o início de algo simples, mas poderoso. Uma nova forma de afeto.

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