Amara
A cobertura tinha cheiro de fumaça e produto de limpeza. Vidros no chão, marcas de bala nas colunas, placas de metal amassadas. Em alguns pontos, o vento entrava assobiando por frestas novas, como se a noite tivesse lembrado à casa que ela também podia doer.
As câmeras ainda estavam lá fora, famintas. Drones rondavam à distância, procurando ângulos do desastre. Eu respirei fundo e encostei na mureta, olhando a cidade. Não era um cenário de vitória. Era sobrevivência.
— Você não precisa fazer isso hoje — disse Ronan, aproximando-se. — Pode esperar a poeira descer.
— A poeira não desce mais, Ronan — respondi. — A gente é que levanta no meio dela.
Ele baixou os olhos e assentiu. Damian chegou em seguida, com o ombro enfaixado, a camisa simples e limpa, mas o cansaço no rosto.
— Se você for falar, eu fico atrás da câmera — disse, calmo.
— Não — respondi. — Você fica ao meu lado. Mesmo que não apareça.
Mirella posicionou o celular num tripé improvisado. Uma vela sobre a mesa ajudava