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Capítulo 6 – A Primeira Noite

Damian

Dei a Amara a única gentileza que um homem como eu costuma desprezar: deixei que dormisse na casa dos pais. Dominar não é sempre arrastar. Às vezes é abrir a porta e esperar do outro lado.

Não dormi. Fiquei no escritório, vendo a chuva no vidro e ouvindo, pela memória, o “aceito” dela. O lobo pediu marca. O homem, paciência.

De manhã, o motorista parou diante dos Vasquez. Amara trouxe uma mala média e uma sacola. A mãe abraçou o ar, o pai ergueu a mão num adeus contido. Abri a porta do carro. Ela passou por mim ereta, sem agradecimento.

— Dormiu bem? — perguntei.

— O suficiente.

Pensei “mentirosa” e disse apenas:

— Hoje você conhece a sua nova casa.

— “Casa” é palavra cara. Não gaste comigo.

A cidade subiu como um tabuleiro. O meu arranha-céu cortava nuvens, paredes de vidro, linhas limpas. No elevador privativo, o silêncio doía. As portas abriram para a vista inteira da cidade.

— Bem-vinda à cobertura Blackwell, — anunciei.

Ela caminhou devagar. O piso negro refletia as janelas, o horizonte parecia uma promessa sem dono. Parou junto ao painel de vidro.

— É alto demais.

— A altura lembra que cair custa caro.

— E lembra que alguns empurram.

— Eu puxo. Ou seguro.

Não respondeu. Vasculhou com os olhos, lareira linear, cozinha de aço, corredor escuro. Fiquei dois passos atrás. O lobo farejou. Eu o calei.

— As regras, — disse. — Segurança vinte e quatro horas. Portas com senha. Elevadores privados. Acesso total às áreas comuns e ao seu quarto.

— “Seu quarto”, — repetiu. — Onde você dorme?

— No seu.

— Ótimo.

— Há câmeras na sala e nos corredores, — continuei. — Não nos banheiros. Nem no seu quarto. A segurança monitora as áreas de risco. Eu também.

— Claro que você monitora. O controle é sua religião.

— A proteção é. Controle é o dízimo.

Ela abriu gavetas na cozinha como quem testa cercas. Pediu café. Fiz eu mesmo para observá-la. A fumaça ergueu memória e fome. Quando entreguei a xícara, nossos dedos se tocaram um segundo a mais. O âmbar ameaçou meus olhos. Dominei.

— Por que eu? — ela perguntou. — Com tantas opções.

A verdade ficou entre os dentes… porque o lobo reconheceu você. Ofereci a versão humana.

— Porque você não se curva. E sabe quando sangrar e quando cicatrizar.

— Isso soa como avaliação clínica.

— É contrato.

Bebeu em silêncio. O vermelho da outra noite ainda assombrava a pele. Abri o terraço.

— Venha ver.

A grade de vidro dava a ilusão de borda livre. O vento trouxe cheiro de cidade lavada. Amara encostou as mãos no parapeito.

— De cima tudo parece pequeno.

— Exceto o que importa.

— O que importa para você, Damian?

— Vontade.

— A sua. Nunca a dos outros.

— A minha. E, às vezes, a sua.

Ela virou o rosto, surpresa e irritada.

— Você acha que a minha vontade sobrevive aqui?

— Acho que me desafia. E eu gosto de desafios.

Uma mecha grudou no lábio dela. Soltei com dois dedos. Eu poderia segurá-la pela nuca. Não fiz. A fera rosnou. Ainda não, respondi por dentro.

— Mostre o quarto, — pediu.

Conduzi pelo corredor. Portas pretas, luz baixa. Abri a última à direita.

— Este é o seu. Banheiro, closet, vista para o leste. A privacidade é sua. Troque o que quiser.

Ela circulou o espaço, testou a cama com a palma e voltou o queixo para mim.

— O que você espera da “primeira noite”?

— Que você durma. E que acorde aqui.

— Só isso?

— Hoje, sim.

A distância entre nós vibrou. Aproximei devagar e toquei de leve o rosto dela. O lobo pediu dente e pele. Segurei.

— Você é minha esposa, — murmurei. — Logo entenderá que nós não é apenas uma palvra.

Os olhos dela não pediram ajuda. Arderam desafio. Desci os dedos até a linha do maxilar e parei.

— Não sou objeto.

— Não. É território. E eu protejo o que é meu.

— Território também decide quem entra.

— Às vezes, dois donos decidem juntos.

Ela deu um passo para trás até a cama encostar nas pernas. Eu recuei um passo igual.

— Precisa de algo? — perguntei.

— Privacidade.

— Concedida.

Saí e fechei a porta. Sentei no sofá da sala e liguei as telas da segurança: hall, cozinha, corredor, sala. Imagem limpa, preto e branco. Nada no quarto dela. Mantive esse limite.

O resto ficou invisível para mim. Frustração e alívio vieram juntos. Eu não a via, mas sabia que estava ali. O silêncio das câmeras me obrigava a imaginar cada gesto, a água correndo, a toalha deslizando, o cabelo úmido colando na pele.

O lobo abaixou o corpo como fera antes do salto, o homem respirou pelo número oito.

Peguei o telefone.

— Victor. Desligue as permissões externas do elevador. Só eu e ela.

— “Sim, senhor.”

— Envie flores brancas aos pais. Sem cartão.

— “Feito.”

Devolvi o celular à mesa. Amara pegou água, sentou no braço da poltrona, desenhou círculos no mármore com o pé. Minha mão fechou sozinha. Eu podia ir até ela. Eu podia.

Não fui.

Ela bocejou, largou o copo, apagou a luz da sala e sumiu no corredor. A câmera mostrou apenas a sombra entrando no quarto. Fiquei olhando o retângulo escuro, ouvindo meu pulso. A fera acalmou devagar. A cidade piscou.

Lavei o rosto. A noite derramava linhas finas sobre as avenidas.

— “Você é minha esposa” — eu havia dito. Verdade.

Mas a outra verdade latejou sob a pele com violência mansa… você é minha Luna. Meu corpo sabe. Minhas raízes antigas sabem. Você vai saber.

Entrei no meu quarto e deixei as luzes morrerem. Deitei. Não era rendição, era método. Amanhã o mundo exigiria números, reuniões, jornais.

Hoje, bastava ouvir, através das paredes, o ritmo novo que dividiríamos. Não havia noite de núpcias, casal apaixonado trocando beijos. Havia vigília.

E eu vigiei. Em silêncio. Como fazem os que guardam o que é seu.

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