Amara
A reportagem caiu como pedra no peito. “Lia, cúmplice em desvio de verbas.” Fotos antigas, manchetes novas, frases recortadas até virar acusação. Eu soube na hora: Voss. Era a mão dele, fria e calculada, tentando me isolar.
O telefone tocou.
— “Amara…” — a voz de Lia veio falhada, apertada de choro. — “Eles… eles disseram que eu roubei… que usei os abrigos…”
— Eu estou vendo — respondi, já levantando do sofá. — Onde você está?
— “Na porta do prédio. Desculpa. Eu… eu não quero te atrapalhar. Vim só… me despedir.”
— Não — falei, firme. — Sobe.
Ela chegou com os olhos vermelhos e o casaco torto, corpo encolhido, como se quisesse desaparecer. Fechei a porta e abracei sem pedir licença.
— Eu não fiz nada, Amara. — Ela engasgou. — Eu não peguei nada. Eu juro pela minha mãe.
— Você não precisa jurar. Eu acredito em você.
Sentamos a mesa, e ela me mostrou o celular: “transferências”, “contas”, “prints” que qualquer aprendiz de fraude poderia montar.
— Ele quer me deixar sozinha — falei.