Damian
Ronan não bateu. Ele entrou como parte do ar que se move quando as portas cedem. Trazia um envelope pardo sob o braço e o cheiro das ruas no terno. Eu ainda estava com a camisa arregaçada, as mangas marcando o cansaço de uma noite longa demais para caber no relógio.
— Estacionamento da galeria, — anunciou, pousando o envelope na mesa. — Hora entre 15h22 e 16h10. Câmera dois saiu do ar por oito minutos. Interferência ativa. Não foi defeito.
Abri o envelope. Fotos impressas, preto e branco, ângulos de concreto: a sombra dos carros, manchas escuras. Em três imagens, o cimento apresentava riscos paralelos, profundos, curvos como semicírculos repetidos. Garras. O ferro do sangue oxidando em tom quase invisível. O corpo lembrou o cheiro antes do pensamento.
— Cheiro de ferro, — disse Ronan, lendo meu rosto. — Um técnico disse que era fluido de freio. Mandei calar. Eu sei a diferença.
Deslizei a ponta do dedo sobre a foto. A distância entre as marcas contava uma história de tamanho, r