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capítulo 5: A proposta inesperada

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A notícia da morte do meu pai parece um pesadelo do qual não consigo acordar.

Ele se foi por minha causa — por tentar carregar o peso de uma casa falida, uma filha doente e outra perdida entre estudos, currículos rejeitados e dívidas que cresciam como ervas daninhas.

Cada lembrança dele agora dói como uma lâmina afiada.

Ontem, quando chegamos em casa, eu e Sofia fomos direto para o quarto dele. O cheiro ainda estava lá… o mesmo aroma suave de sabonete que sempre ficava em suas roupas. Deitamos na cama, abraçamos suas camisas como se fossem braços e choramos até o corpo não aguentar mais.

Sofia acabou passando mal; preparei um chá, dei-lhe o remédio e fiquei ao lado dela até que o sono a levasse.

Margo ficou comigo a noite toda. Sentada ao meu lado, não disse muito, mas sua presença era um escudo contra o desespero. Eu e Sofia a amamos. Agradeço a Deus por ela estar aqui — porque sozinha… eu não conseguiria.

Ainda estava no quarto do meu pai quando senti braços me envolverem por trás. Pelo perfume floral e doce, reconheci Margo.

— Bom dia, meu amor — disse ela, apertando-me como se quisesse segurar meus pedaços no lugar. — Eu sinto muito pelo tio. Queria tanto estar aqui quando tudo aconteceu… Talvez eu tivesse feito algo. Eu o amava como a um pai.

As palavras dela me partiram ainda mais.

— Eu também queria estar aqui, Margo… — minha voz falhava, embargada. — Queria ter dito que o amava… ter abraçado ele… Eu não vou aguentar. Não sei o que fazer. Eu quero meu pai de volta.

As lágrimas voltaram com força. Ela chorou comigo, nossas respirações presas num mesmo nó. Entre soluços e abraços, o tempo pareceu se arrastar. Até que, inevitavelmente, chegou a hora de me despedir dele.

Sofia estava pálida. Ainda carregava nos olhos a lembrança do infarto. Ela sabia que o coração dele não aguentava mais, mas isso não tornava a perda menos cruel. Eu não queria — e não ia — perder também a última pessoa que me restava.

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O céu estava cinzento, pesado, como se compartilhasse o peso no meu peito.

Cada pá de terra caindo sobre o caixão soava como um trovão abafado, soterrando um pedaço da minha alma. O ar cheirava a terra molhada e flores murchas.

Não havia mais lágrimas. Apenas um silêncio que gritava dentro de mim.

Sofia apertava minha mão com a pouca força que lhe restava. Seus dedos frios tremiam.

Ao redor, rostos pálidos e distantes — pessoas que nunca apareceram enquanto meu pai estava vivo, mas que agora se amontoavam para dar abraços frios e palavras vazias. Eu sabia que amanhã todos voltariam às suas rotinas, e nós ficaríamos com a ausência.

— Aura? — a voz de Margo me puxou dos pensamentos. — Vamos para casa. As pessoas já foram. É a nossa vez.

Olhei ao redor e percebi que estávamos sós.

Sofia soluçava baixinho nos meus braços.

— Ei, Sof… Você vai com a Margo, tá? Precisa descansar, meu amor.

Ela levantou o rosto, lágrimas escorrendo pelos olhos cor de mel.

— Não quero. Quero ficar com você. — Agarrou-se mais.

Afaguei seu cabelo castanho e úmido de choro.

— Olha pra mim, meu amor. — Ela balançou a cabeça. — Por favor, olha pra mim.

Quando finalmente ergueu o olhar, falei baixo:

— Eu preciso que você vá com a Margo agora. Precisa tomar seus remédios. E o papai não gostaria de te ver assim. Ele ficaria triste. A sua irmã mais velha sabe o que está dizendo. Faz isso por mim? Se você ficar bem… eu também fico.

— Tá… — murmurou, a voz quebrada.

Beijei o nariz dela, nosso gesto de carinho. Ajudei-a a se levantar e sacudir a roupa.

— Você volta logo pra casa, ou eu volto aqui — disse ela, tentando um sorriso frágil.

Trocamos mais um beijo no nariz, um abraço apertado e então ela e Margo se afastaram, desaparecendo entre as fileiras de lápides.

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Fiquei sozinha diante da terra fresca sobre o túmulo do meu pai. A dor latejava como uma ferida aberta, impossível de cicatrizar. O silêncio do cemitério parecia me engolir… até que uma voz rompeu o ar frio.

— Aurora.

Virei-me lentamente. E lá estava ele. O homem loiro. O que ele estava fazendo aqui?

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, sem coragem de encará-lo por muito tempo.

— Meus sentimentos, Aurora — disse ele, a voz baixa e sóbria, como se estivesse medindo cada palavra.

O silêncio se prolongou. Eu não sabia nem o nome dele, só que sua postura elegante e o terno impecável gritavam que ele não era deste lugar.

— Posso te dar uma carona? — perguntou, por fim.

— Obrigada, mas vou pegar um ônibus.

Ele fez uma pausa, estudando meu rosto.

— Tenho uma proposta pra você. Pode parecer insensível, mas é a única hora em que sei que você me ouviria.

Arqueei a sobrancelha, cansada demais para disfarçar a irritação.

— Eu sei que não é o momento ideal — continuou. — Mas não posso adiar. Você precisa de dinheiro. Sua irmã precisa de cuidados. Eu preciso… de um contrato de fachada, um de casamento.

Pisquei, atônita.

— Um… casamento? — perguntei, incrédula.

— Sem sentimentos. Eu resolvo sua situação financeira. Em troca, você me ajuda a fechar um acordo que exige que eu esteja casado.

Ri, sem humor, o som soando mais como um suspiro exausto.

— Você só pode estar maluco. Acabei de enterrar o meu pai.

— Os mortos não prejudicam os vivos.

A indignação queimou dentro de mim.

— Eu devia te dar um tapa. Só não dou porque estamos num cemitério.

— Não estou comprando sua alma. Estou oferecendo uma chance.

— Uma chance de me vender — cuspi as palavras, sarcástica. — Como se o luto fosse uma janela de oportunidade.

Ele tirou um cartão preto do bolso e o estendeu. Eu não toquei.

— É exatamente por isso que vim. Porque sei que você precisa.

— Preciso? Do quê? De vender a alma pro diabo?

— De ajuda. Dinheiro. Recursos. Posso salvar sua irmã.

Meu olhar ardeu de raiva… e medo. Raiva porque ele poderia salvar minha irmã — e tantas outras — sem pedir nada em troca, se realmente quisesse. Medo porque… ele estava certo.

— Não quero nada de você — respondi, virando as costas. — Não hoje. Talvez nunca.

Ajoelhei-me diante da lápide. O frio da pedra se infiltrou na pele. Ele deixou o cartão sobre a terra recém-revirada.

— Desculpa, senhor Lemos — murmurou, quase num lamento. — Mas sua filha vai ter que escolher entre a dor e a sobrevivência. E eu sou a única ponte.

Foi embora sem olhar para trás.

Eu terei que escolher entre a dor e a sobrevivência. Foi isso que ele disse… mas não agora. Não ainda.

Fiquei ali, imóvel, o cartão preto me fitando como uma tentação silenciosa, enquanto meu coração pulsava entre dor e raiva.

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