O hospital parece uma cidade que nunca dorme. Luzes frias, passos apressados, vozes sussurradas e aquela constante sensação de que o tempo escorre de forma diferente ali dentro — mais denso, mais lento, mais cru.
Minha equipe havia providenciado tudo. O cômodo ao lado da UTI, antes uma sala de apoio para médicos plantonistas, foi reorganizado. Mesa larga, duas poltronas, um sofá confortável, frigobar, e o mais importante: uma cama. Peço para manterem tudo o mais discreto possível.
Dona Natália ainda está na UTI, sedada, estável. Lara permanece ao lado da porta, como se sua simples presença pudesse proteger a mãe do mundo. Eu sabia que seria assim. Ela me escutou quando pedi que dormisse, que voltasse para casa, que descansasse. Mas também sei: aquele momento foi um empréstimo temporário. Agora que o choque imediato passou, Lara ficará aqui. Até que a mãe acorde. Até que possa perguntar, ouvir, entender.
Entro na sala, fecho a porta com cuidado e passo a mão pelos cabelos, tentando or