LARA
A casa está escura quando entramos. As luzes automáticas se acendem com um brilho suave, mas mesmo assim, o ambiente parece sombrio. Como se estivesse em luto. Ou talvez seja apenas a minha visão — nublada por tudo o que ficou preso no corpo e na memória.
Subo as escadas com passos lentos. Dorian não diz nada, mas me acompanha, perto o suficiente para me amparar se eu vacilar, distante o suficiente para respeitar meu espaço. Quando chegamos à suíte, não penso em nada além do que está por vir: o banho, o silêncio, o travesseiro que talvez seja um consolo ou uma sentença.
Na frente do espelho, olho para mim. Não me reconheço de imediato. A maquiagem borrada, os olhos vermelhos, o cabelo preso de qualquer jeito. Sou o retrato daquilo que tentei esconder: uma filha assustada esperando por respostas.
Tomo banho como quem tenta lavar um passado inteiro da pele. A água está quente, mas nada derrete. Nem a dor, nem as dúvidas, nem o peso de uma vida marcada pela ausência. Visto uma camis