LARA
Fico olhando para o celular como se a tela fosse uma armadilha. A mensagem está ali, fixa, imóvel, mas é como se tivesse vida própria. Como se me observasse de volta.
Filha, precisamos conversar. Eu nunca quis te deixar.
Duas frases. Quatro palavras que me pertencem, outras sete que tentam justificar uma ausência que nunca foi explicada. O número é desconhecido. Sem foto. Sem nome. Mas o impacto... esse tem identidade.
— Dorian — murmuro, quase sem voz.
Ele se aproxima devagar, como se soubesse que qualquer passo em falso agora pode me fazer desabar. Me sento mais ereta, mas ainda encolhida. Estendo o celular para ele sem dizer mais nada.
Ele lê. E não diz nada por alguns segundos.
Depois, levanta os olhos para mim.
— É ele?
— Eu não sei.
— Você quer descobrir?
A pergunta me atravessa. Tão direta. Tão simples. E, ao mesmo tempo, tão cheia de consequências.
— Eu não sei se quero ou se preciso. Não sei se é uma escolha ou uma armadilha.
Ele espera. Como sempre faz. Não me pressiona