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Capítulo 3 - Bem-vinda ao Inferno

A cama dele era grande demais.

E fria demais.

Como todo o resto.

Os lençóis tinham o cheiro dele — não um perfume forte, mas algo mais sutil, como madeira e controle. O tipo de cheiro que impregna e domina, mesmo sem permissão.

Eu estava deitada de lado, o corpo rígido, o olhar perdido na parede. Dorian ainda não havia voltado do escritório. E parte de mim queria que ele não voltasse. A outra parte... temia o que aconteceria quando voltasse.

A porta se abriu devagar. Meu coração disparou, mesmo sabendo que era ele.

— Espero que a cama esteja do seu agrado — disse, com ironia escorrendo da voz.

Virei o rosto. Ele estava sem o paletó agora, as mangas da camisa dobradas até os antebraços. A gravata afrouxada. Cabelo levemente bagunçado.

Homens não deviam ter o direito de parecer tão perigosos no cansaço.

— Está tudo... perfeito — respondi, e a palavra saiu como uma lâmina mal embainhada.

Ele caminhou até o closet, abriu a porta e desapareceu por alguns minutos. O som do zíper de uma mala sendo aberto, cabides se movendo, e o leve tilintar metálico do silêncio sendo torturado.

Quando voltou, estava com uma calça de moletom escura e uma camiseta preta. Simples. Intimidador.

— Vai continuar fingindo que não está com medo?

Engoli seco.

— Eu não estou com medo.

Ele sorriu. Um sorriso pequeno, cético, delicioso de odiar.

— Não de mim. De você mesma.

O jantar foi servido na sala menor, o que, claro, ainda significava uma mesa enorme e um silêncio desconfortável que caberia uma orquestra.

Comemos em silêncio nos primeiros minutos. A comida era refinada, deliciosa, feita por um chef que eu nem conhecia. E ainda assim, tinha gosto de obrigação.

— Vai fazer isso todos os dias? — perguntei, finalmente.

— Comer? Sim.

— Me deixar desconfortável?

— Só quando estiver tentando fingir que está no controle.

Cruzei os talheres com cuidado.

— Isso não é um jogo, Dorian.

Ele bebeu um gole de vinho e então me encarou por cima da borda da taça.

— Tudo é um jogo, Lara. Só perde quem se esquece disso.

— E o que exatamente você acha que vai ganhar?

— Você. Controlada. Fingindo ser minha. E talvez... por um tempo, me convencendo de que é.

Aquilo me acertou em cheio.

— E se eu não fingir bem?

— Você vai fingir. — Ele largou a taça com um estalo. — Porque você me deve. Porque sua mãe sobreviverá por minha causa. Porque você me quebrou. E agora vai consertar, do jeito que eu quiser.

— Você quer me punir.

— Não. — Ele se inclinou. — Eu quero te lembrar.

— Do quê?

— De como era antes de você me abandonar.

Depois do jantar, subi primeiro. Precisava de espaço. Ar. Controle.

O quarto parecia ainda maior agora. Me despir e vestir a camisola foi como tirar a armadura. A fina seda preta escorria sobre minha pele como se me acusasse.

Deitei no lado esquerdo da cama, por instinto. E odiei que meu corpo ainda lembrasse onde ele dormia.

Minutos depois, ele entrou. Silencioso. Letal.

Olhou para mim e, por um segundo, hesitou. Depois contornou a cama e deitou do lado oposto, sem dizer nada.

A luz do abajur ainda acesa entre nós.

O silêncio que se instalou era mais denso que o ar.

— Você está fazendo isso parecer mais íntimo do que é — murmurei, de olhos fechados.

— Porque é íntimo.

— Isso é um contrato, Dorian. Não um casamento.

— Você está deitada na minha cama. Usando algo que eu paguei. Com meu anel no dedo. Acha mesmo que o mundo vai enxergar a diferença?

— Eu não me importo com o que o mundo vê.

— E comigo?

Abri os olhos. O quarto parecia menor, sufocante.

— O que você quer de mim?

Ele se virou para o meu lado. Estava perto o suficiente para que eu sentisse o calor do corpo dele, o aroma leve que reconheceria até no escuro.

— Quero que pare de fingir que ainda não sente.

— E se eu não sentir?

Ele não respondeu. Apenas levantou a mão e tocou meu rosto.

Devagar. Como se ainda fosse dele.

Minha pele ardeu.

— Está mentindo — ele disse, a voz mais baixa do que um sussurro. — Mas seu corpo não mente, Lara. Nunca mentiu.

Engoli em seco. Minhas mãos se fecharam nos lençóis. Ele se aproximou mais.

E então… parou.

— Boa noite — disse, se virando de costas. — E Lara?

— O quê?

— Bem-vinda ao inferno.

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