Simplesmente, num ato de impulso, exausta de ouvir tanta ofensas vindas de pessoas que nunca se preocuparam em me conhecer de verdade, eu fiz o impensável: pedi um completo desconhecido em casamento, no dia em que deveria me casar com o homem que jurei amar por seis anos. Talvez eu tivesse enlouquecido, mas quando as palavras escaparam da minha boca, não havia mais volta. Apenas esperar não ser humilhada mais uma vez.
— Acho que a Elisa finalmente perdeu o juízo — ouvi uma gargalhada debochada entre os convidados do Felipe. — Só alguém completamente surtada para propor casamento a um segurança de festa!— acrescentou outra voz, carregada de desdém. — Ela só quer envergonhar ainda mais os Sterling! — dessa vez, um comentário venenoso atravessou o salão como uma flecha, fazendo meu coração vacilar. Engoli em seco, cada vez mais nervosa com as risadas e cochichos. Então ergui o queixo e apertei a mão do segurança com mais força, como se aquele gesto fosse meu último fio de coragem. Porém, não me preparei para tomar dois foras em um dia, então, em meu pensamento, estou suplicando pra que ele aceite. — Elisa, o que você pensa que está fazendo? — a voz gelada e carregada de deboche da minha ex-sogra ecoou, arrancando-me dos meus pensamentos. — Está tentando insultar nossa família? Vai mesmo se casar com esse pobretão? Soltei a mão do segurança por um instante, apenas para encarar ela nos olhos e mostrar que ela não me gera medo algum, que em nenhum momento me senti intimidada por ela. — Eu paguei cada centavo deste casamento. Posso me casar com quem eu quiser! — falei, tentando parecer confiante. — Isso não tem nada a ver com a sua família e não é da sua conta. — minha voz é firme, mesmo sentindo minhas pernas tremerem. — Que conveniente — ela rebateu, exibindo um sorriso falso. — Todos sabem do poder e da riqueza dos Sterling. Até a poderosa Kingsley Empreendimentos negocia conosco. Você acha que alguém acreditaria que você se casaria de verdade com um… segurança? — seus olhos passearam por ele de cima a baixo, com desprezo. — Isso não passa de um teatrinho barato para fazer Felipe voltar atrás. Você é burra ou ingênua? Respiro fundo, conto mentalmente até três, tentando manter minha voz firme diante da plateia que me julga como se estivesse em um espetáculo. Tento não voar no pescoço dela e, arrancar sua jugular com minhas próprias unhas. — Prefiro mil vezes me casar com um homem simples, um desconhecido, do que passar a vida me humilhando com gente como você. Passar a vida mendingando respeito para uma família que nunca me aceitou. — Pois bem! — ela exclamou, triunfante. — Se tem tanta coragem, que se casem hoje mesmo! Boa sorte com a sua vidinha miserável. – Ela gargalha, como se tivesse contado uma grande piada. — Então… você quer casar comigo? — Segurei novamente as mãos dele e dei um sorriso mais sincero que consegui naquele momento. Tento acalmar meu coração e me preparar para qualquer resposta que esteja por vir. Ele hesitou por um instante. Vi em seus olhos a surpresa, a ponderação… mas também uma estranha calma. Ficou imóvel, olhando o quanto minhas mãos tremiam. Enquanto suas mãos grande seguravam as minhas trêmulas, senti o coração disparar, tão alto que parecia ecoar no salão inteiro. — Tudo bem. — Ele, enfim, falou. — Eu caso com você. Por um segundo o mundo parou, parecia que estavamos só nós dois, parados nos olhando com tanta intensidade. Um mix de sentimentos que eu nunca havia experimentado antes. — Ótimo! — suspirei, aliviada, como se tivesse vencido uma batalha invisível. Quando achei que finalmente nós sairíamos daquele lugar, olho para o seu rosto e vejo ele arquear uma das sobrancelhas e, em seguida, olhar para minha ex-sogra com uma tranquilidade perturbadora. — Você disse que os Sterling fazem negócios com a Kingsley Empreendimentos? — sua voz soou firme, quase fria e eu decido apenas observar que rumo isso vai dar. — De qual família Sterling estamos falando? Um silêncio ensurdecedor pairou pelo salão. Parecia que todos paralisaram surpresos com a pergunta ou talvez com a atitude ousada do rapaz. Até mesmo a bruxa da minha ex-sogra ficou em silêncio até processar a informação. — Não acredito que existam pessoas que não conhecem o grande Grupo Sterling — a mulher respondeu, indignada. — Quem é você para questionar? O que você está tramando? — Nada demais. — ele apenas esboçou um sorriso contido, quase irônico —Só estou pensando em um presente de casamento para a minha esposa. Meu coração se apertou. Não entendi nada, mas também não quis arriscar mais perguntas. Apenas deixei que ele passasse o braço pelos meus ombros, num gesto inesperadamente protetor, e saímos juntos pela porta do salão. Sinto que, de alguma forma, eu venci essa batalha. Hoje depois, diante de um cartório, percebi a loucura que havia cometido. Estava casada. Casada com um completo desconhecido. Olhei para ele em silêncio. Ele é bonito demais para ser real. Poderia facilmente ser um modelo capa de revista, com seu porte imponente e o seu olhar enigmático. Além disso, havia sido… gentil. Gentil o suficiente para dividir comigo o peso do escárnio púbico. Meu devaneio foi interrompido quando ouvi sua barriga roncar. — Está com fome? — perguntei, tentando aliviar o clima. — Que tal eu te pagar um lanche no Cantinho do Sabor? — Cantinho do Sabor? — ele repetiu, como se fosse uma novidade exótica. — Eu nunca estive lá! Senti um aperto de culpa no peito. Como pude ser tão sem noção assim? Seguranças não ganham muito. Ele provavelmente nunca nem ouviu falar desse lugar. Eu havia arruinado o trabalho dele, metido-o num escândalo e agora falava de restaurantes, como se fosse algo trivial. — Vai ser tudo por minha conta, claro. — acrescentei rápido, sorrindo sem jeito — Só preciso pegar meu carro. Já volto. E corri em direção ao estacionamento, sem saber que aquele simples gesto mudaria minha vida para sempre.