Mundo de ficçãoIniciar sessãoChiara Davis encarava sua própria imagem no espelho do quarto luxuoso, analisando cada detalhe da maquiagem impecável, dos cabelos loiros perfeitamente ondulados, do vestido elegante que abraçava suas curvas. Ela respirou fundo. Naquele dia, tudo precisava sair perfeito.
Ela finalmente tinha o que precisava para amarrar Owen Davis. O bilionário, dono de um império farmacêutico e publicitário, era o homem mais disputado de Nova York. Poderoso, reservado, impecável — e completamente alheio ao interesse emocional que as pessoas tinham nele. Inclusive Chiara. Eles se encontravam sempre que ele tinha tempo. Jantavam. Passavam noites juntos. Viajavam quando a agenda permitia. Para Owen, tudo era leve, sem pressões. Apenas companhia, sexo, presença. Para ela, não. Para ela, era a chance de se tornar parte da família mais poderosa que já conhecera. E, até aquele exato momento, Chiara não tinha conseguido o que mais desejava: um pedido de casamento. Owen parecia imune à ideia. Não prometia nada, não negava nada. Apenas vivia — com uma frieza quase confortável — como se o futuro fosse apenas uma extensão pragmática do presente. Mas agora tudo mudaria. Com a respiração acelerada, Chiara desceu as escadas da mansão e encontrou Owen na sala, revisando relatórios no tablet. Ele estava impecável, como sempre — camisa branca dobrada nos antebraços, relógio de aço, expressão séria. — Owen… — ela disse, com um tom suave o bastante para fazê-lo levantar os olhos. — Sim? — Ele respondeu sem levantar completamente a cabeça, mas atento. Chiara se aproximou lentamente, sentou-se ao lado dele e colocou a mão sobre o tablet, forçando-o a prestá-la atenção. — Precisamos conversar. Owen arqueou uma sobrancelha. Ele odiava essa frase. Geralmente significava drama, e drama era algo que ele evitava com precisão cirúrgica. — Diga. Chiara inspirou fundo, encostou as mãos no próprio ventre — um gesto calculado — e anunciou: — Estou grávida. Owen ficou completamente imóvel por longos segundos. Era impossível ler sua reação. Nenhuma explosão, nenhum sorriso, nenhum surto de raiva ou felicidade. Apenas silêncio. E então, calmamente, ele colocou o tablet sobre a mesa e cruzou as mãos. — Tem certeza? — perguntou, com a voz firme, porém neutra. — Absoluta. — Ela ergueu o queixo, ensaiando vulnerabilidade. — Eu sei que não era algo que conversamos, mas… aconteceu. Owen respirou fundo, desviando o olhar para a janela. O peso da notícia tocava memórias antigas — lembranças que ele preferia manter enterradas. A morte da mãe, quando ele tinha apenas oito anos. O pai autoritário, frio, que tratava o filho como mais um investimento da família. Os anos crescendo cercado por empregados, sem afeto, apenas regras, instruções e expectativas. Owen aprendera a ser forte sozinho, a não depender de ninguém. A solidão era mais confortável do que a ideia de laços frágeis que poderiam machucá-lo — como a mãe, cujo amor o marcara profundamente antes de desaparecer. Aos quinze anos, veio outra tragédia: o acidente de carro que tirou a vida de seus tios. Foi assim que Travis entrou em sua vida, aos quatorze — o primo que se tornou, ao mesmo tempo, melhor amigo e irmão de consideração. Travis foi a única presença real que Owen permitiu ao seu lado. Alguém que entendia seu silêncio, seu temperamento controlado, sua rotina focada e rígida. Agora, diante da notícia de Chiara, Owen sentia uma combinação de dever e confusão. — Eu vou assumir a responsabilidade — disse ele afinal. — Não se preocupe com isso. Chiara sorriu por dentro. Ela sabia: Owen podia não ter declarado amor, mas sempre cumpria obrigações. E a paternidade colocava-os oficialmente ligados. — Eu sabia que você seria incrível — ela sussurrou, se inclinando para abraçá-lo. Owen permitiu o abraço, mas não o retribuiu. Seu corpo permanecia rígido, a mente perdida em outra direção. Ele sabia: a vida estava prestes a mudar, querendo ou não. --- Do outro lado do país, a realidade era completamente diferente. O vento cortante da cidade grande bateu no rosto de Anna quando ela desceu do carro de Seline. Os arranha-céus de Nova York pareciam tocar o céu cinzento, e as luzes, mesmo durante o dia, competiam com o brilho dos letreiros das avenidas. Anna jamais tinha visto nada parecido. Até então, sua vida se resumia a ruas simples, ônibus lotado, hospital público e o peso de responsabilidades muito maiores do que sua idade. Agora, estava diante de um hotel elegante e silencioso, próximo à clínica onde Seline trabalhava. A médica estacionou, tirou o cinto e sorriu de maneira gentil — gentil demais. — Bem-vinda a Nova York, Anna. Sei que tem sido difícil para você, e quero que saiba que não está sozinha. Vou ajudar no que for preciso. Aquelas palavras bateram fundo. Anna mal conseguia respirar desde que recebera a notícia da morte da mãe horas antes. Não havia chorado. Não havia desabado. Estava como se o corpo tivesse desligado o botão das emoções para que ela não desmoronasse na calçada daquele escritório onde tudo mudara. Seline continuou: — Fique aqui no hotel por enquanto. É perto da clínica, e amanhã conversaremos com calma sobre como posso te ajudar. Não se preocupe com os custos, eu vou resolver tudo. Anna segurou a alça da mochila, olhando ao redor, impressionada com o luxo da fachada. — Eu… não sei como agradecer. — Só aceite minha ajuda — disse Seline, tocando o ombro dela. — Às vezes, a vida tira algo da gente… para nos dar outra chance. Anna engoliu seco. Queria acreditar. Queria sentir algo que não fosse dor. A médica se afastou em direção ao carro, já pegando o telefone para ligar. Anna caminhou até a porta do hotel, sem perceber que Seline, dentro do veículo, falava em voz baixa, quase sussurrando. — Chiara… — disse ela, quando a ligação foi atendida do outro lado. — Está tudo correndo como planejado, amanhã farei os exames. E desligou com um sorriso lento.






