O silêncio após a tormenta era enganoso. O véu havia sido selado, sim, mas os ecos daquela travessia continuavam a vibrar dentro de cada um deles. Miguel sabia, no fundo da alma, que não havia sido apenas um portão fechado — havia sido um pacto selado com aquilo que não deveria ser tocado.
Nos dias seguintes, a cidade tentou voltar ao normal. As ruas antes mergulhadas em trevas foram novamente iluminadas, e as pessoas retomaram suas rotinas, como se nada houvesse acontecido. Mas os que sabiam da verdade — os portadores — não conseguiram simplesmente esquecer.
Valéria começou a ouvir sussurros à noite. Vozes que chamavam por ela usando um nome que não lembrava ter. Léo, por sua vez, teve sonhos com um campo de batalha em chamas, onde uma versão dele mesmo, coberta por sombras, empunhava uma lâmina feita de dor. Mateo, calado, começou a evitar os espelhos da casa — dizia que via algo além do reflexo, algo que sorria quando ele não o fazia.
E o quarto portador... havia sumido.
Miguel