Capítulo 3

Havia um catálogo de diamantes aberto à minha frente. As pedras mais raras e valiosas do mercado estavam sobre a minha mesa, como se pudessem me distrair do que realmente importava. Mas minha mente não estava ali. Ela estava nela. Na minha ex-mulher.

Eliza Walker… não. Eliza Bennet. Esse era seu verdadeiro nome. A herdeira da Bennet Crown. A mulher que sumiu do mapa há mais de um ano, deixando para trás o caos e a mim.

Não havia rastros, não havia notícias. Nenhum amigo em comum, nenhum informante, nenhum movimento online. Era como se ela tivesse se apagado do mundo. Às vezes, eu me perguntava se tudo aquilo tinha sido real. Eliza realmente existiu?

Então, como em um ritual silencioso de autoflagelação, abri a gaveta inferior da minha mesa e tirei de lá a revista. Aquela mesma capa, há tempos esquecida pelo público, ainda queimava minha pele como na primeira vez. Nosso casamento. O evento que abalou Nova York. O dia em que a princesa do império Bennet se uniu ao CEO da Walker & Co.

Um tratado de paz… ou, como mais tarde percebi, um ato de guerra disfarçado de amor. Ela existiu. Ela só não queria ser vista por mim. E tinha toda a razão.

Durante os dois anos que fomos casados, eu evitei olhar para ela. Evitei tocá-la. Mantive distância como se ela fosse uma ameaça, quando, na verdade, era tudo o que eu queria. Por quê? Porque eu era um covarde.

Porque cada vez que meus olhos encontravam os dela, eu via algo que me aterrorizava: Amor.

Amor verdadeiro. Amor que me arrancava da lógica fria dos negócios. Amor que me lembrava o que tínhamos perdido para sustentar o orgulho das nossas famílias. Ela era a herdeira do império rival. E eu… fui treinado para destruir rivais. Mas Eliza nunca foi uma rival. Ela foi a mulher que enfrentou o mundo por mim.

E eu retribuí com silêncio, frieza… e distância.

Agora ela era um fantasma. Um nome sussurrado nos corredores da alta joalheria.

Ainda segurava a revista do casamento nas mãos quando a porta do meu escritório se abriu sem que eu autorizasse.

— Desculpa invadir assim, mas… você precisa ver isso. — disse Jake, meu sócio e amigo desde a faculdade, com um exemplar recém-saído da Luxury Times nas mãos.

— O que é agora? Mais uma fusão no Oriente Médio? — perguntei, guardando rapidamente a revista antiga na gaveta. Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.

— Não. Muito pior… — ele disse com um sorriso enviesado, como quem entrega uma bomba.

Ele jogou a revista sobre a minha mesa. O impacto seco do papel ecoou mais do que deveria.

E lá estava ela. Eliza.

Vestindo um conjunto de alta-costura, usando colares que pareciam ter sido criados para uma rainha. O cabelo impecável, o olhar firme. Segura, inabalável.

A manchete, em letras douradas, me atingiu como um soco:

“Eliza Bennet, a nova CEO da Bennet Crown, anuncia a coleção que promete redefinir o mercado mundial de joias.”

Engoli em seco. Por um instante, meu corpo ficou imóvel.

— Eu achei que era montagem — Jake continuou, jogando-se na poltrona à minha frente. — Mas não. Ela está de volta. E pelo visto, não quer passar despercebida.

Não respondi de imediato. Meus olhos continuavam presos à imagem. Aquela era a mulher que um dia dividiu a cama comigo. Que eu ignorei. Que eu deixei ir.

— Nathan, você tá bem?

Levantei o olhar lentamente, a mandíbula tensa.

— Ela virou a joia mais valiosa daquele império. E eu… a joguei fora como se fosse vidro.

Jake me encarou por alguns segundos, mais sério agora.

— O que vai fazer?

Fechei a revista e a empurrei de volta para ele.

— Onde ela estava? — perguntei, a voz mais baixa, mas carregada de urgência.

Jake soltou um suspiro, recostando-se na poltrona.

— O que você acha? Foi estratégico. A família apagou ela do mapa pra garantir que, quando voltasse, seria com força total. Uma jogada digna dos Bennet. Ela sumiu do nada e reapareceu como presidente da Bennet Crown, desfilando em Milão, assinando contratos bilionários em Dubai… — Ele balançou a cabeça, quase admirado. — O mundo agora está olhando pra ela.

Me levantei devagar, caminhando até a janela. O reflexo do meu rosto no vidro parecia mais velho, mais duro do que eu lembrava. Talvez fosse a culpa. Ou a perda.

— Eliza não era só filha daquele império. Ela era o próprio ouro bruto. E eu fui cego demais pra lapidar.

— Você não lapidou, Nathan. Você enterrou. — Jake falou sem me poupar, mas havia mais pena do que julgamento na voz dele. — E agora ela voltou como diamante.

Fiquei em silêncio, o maxilar travado. O nome dela parecia ecoar por toda parte. Eliza Bennet. Estava nos outdoors da Quinta Avenida, nas vitrines mais caras de Paris. Enquanto eu… eu só a via nos meus pesadelos. E nos meus arrependimentos.

— Acha que ela vai querer te ver? — Jake perguntou, com cautela.

— Não. Mas ela vai me ver. — falei com firmeza, virando de volta para ele. — E não como o homem que a ignorou. Mas como o homem que finalmente entendeu o que perdeu. E que vai lutar pra ter uma segunda chance.

Jake ficou em silêncio por alguns segundos e depois assentiu devagar, um meio sorriso no rosto.

— Então é isso. O CEO da Walker & Co. declarou guerra silenciosa. Pela mulher mais poderosa de Nova York.

— Pela mulher da minha vida. — completei.

Virei-me em direção à mesa, puxando um dos catálogos com mais força do que o necessário.

— Vamos lançar uma nova coleção. Algo ousado. Atemporal. — Meu olhar se fixou na imagem de um colar de diamantes lapidados com perfeição. — Quero algo que grite sofisticação, poder… e arrependimento.

Jake ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Arrependimento?

—Sim. Porque é isso que ela precisa ver. Que eu reconheço o erro. E que estou disposto a reconstruir do zero… mesmo que isso signifique perdê-la de vez. — Suspirei, já visualizando a estratégia. — Prepare a equipe de mídia. Quero uma campanha com impacto internacional. Vamos colocar a Walker & Co. em todas as vitrines possíveis. Nova York. Paris. Londres.

— E as modelos?

— Escolha as melhores. Mas quero que todas tenham algo em comum: olhos escuros e postura de realeza. — Disse sem hesitar. — Quero que cada uma delas, ao menos por um segundo, me lembre dela.

Jake sorriu, dessa vez com um certo deboche misturado a admiração.

— Isso vai dar o que falar.

— Ótimo. É disso que precisamos. De barulho.

Me sentei novamente, mas meu olhar estava perdido em outra direção. Porque no fundo, mais do que qualquer campanha, mais do que qualquer diamante ou linha de luxo…

O que eu queria era que ela me olhasse de novo. Nem que fosse com raiva. Nem que fosse por um instante. O que eu fiz com Eliza foi cruel. Cruel e calculado.

Fiz ela se apaixonar por mim. Me tornei exatamente o tipo de homem que ela queria: gentil, intenso, apaixonado. Aproximei-me devagar, ganhei sua confiança, me infiltrei no coração dela. E quando ela caiu… eu fui embora, mesmo estando dentro da mesma casa.

Casei-me com a filha do maior rival do meu pai. Com a herdeira da Bennet Crown. E por quê? Porque era o plano perfeito. Um golpe de mestre.

Fingir amor. Roubar a peça mais valiosa deles. E depois, deixá-la apodrecer no silêncio do meu desprezo.

Não a toquei. Não a ouvi. Não a vi.

Durante dois anos, tratei Eliza como se fosse invisível. Como se ela fosse um incômodo decorativo no meu apartamento de cobertura.

Mas o que eu não esperava era que ela aguentaria tudo com aquela dignidade arrogante dos Bennet. Que mesmo sangrando, ela se manteria de pé. Que mesmo quebrada, ainda seria feita de diamante.

E agora ela está de volta. Não como minha esposa, mas como CEO da Bennet Crown. A mulher mais poderosa do mercado de joias da América. E a joia mais rara que eu jamais deveria ter deixado escapar.

Porque, quando percebi que não estava fingindo, já era tarde demais.

Eu me apaixonei por ela. De verdade. Mas ela… finalmente me odeia.

Eliza era linda demais. Com aqueles cabelos negros, longos e ondulados, que caíam como uma cascata sobre os ombros, brilhando sob qualquer luz. Contrastavam de um jeito quase cinematográfico com a pele clara e suave dela. Às vezes, ela parecia uma pintura. Outras vezes, uma boneca, daquelas que a gente não tem coragem de tocar, com medo de quebrar. Era tão linda… que eu evitava olhar. Porque olhar era perigoso. Porque olhar me fazia lembrar que ela não era só uma Bennet.

Ela era minha mulher. Minha mulher.

E quanto mais linda ela parecia, mais eu a odiava por me fazer sentir… humano.

Eu acordava de madrugada e ela dormia ao meu lado, de bruços, o rosto parcialmente coberto pelos cabelos. E, por alguns segundos, eu esquecia quem ela era. Esquecia quem eu era. Tudo parecia possível. Paz. Amor. Futuro.

Mas aí, a lembrança voltava. E eu virava para o outro lado da cama.

Evitá-la era mais fácil do que admitir que o plano já tinha ruído. E que eu era o covarde que não soube amá-la.

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