Capítulo 2

Os dias passaram. Deixei Nova Iorque para trás, como quem fecha uma porta sem tranca, mas com cicatrizes. Eu precisava me recuperar. Precisava lembrar quem eu era quando não estava trancafiada no apartamento com Nathan Walker.

Precisava, acima de tudo, lembrar quem eu era…

Mas, afinal, quem eu era?

— Você é uma Bennet, Eliza. Herdeira da nossa família. Se recomponha. Sorria. Nós não choramos em público. — disse minha mãe, com sua voz firme e seu visual impecável. Cabelo milimetricamente preso, vestido de linho branco sem um vinco fora do lugar.

Eu assenti com a cabeça, tentando absorver a força que ela projetava como um escudo. Havia orgulho no olhar dela, mas também havia dor disfarçada como se, por dentro, ela também tentasse entender como tudo chegou àquele ponto.

Meu pai me aceitou de volta sem uma palavra sobre Nathan. Nenhuma acusação, nenhum julgamento. Para ele, eu apenas “retornara de uma temporada no exterior”.

Foi assim que ele explicou minha ausência.

Foi assim que ele apagou o incêndio que meu divórcio causou em Nova Iorque com silêncio, estratégia… e poder.

Para manter as aparências, mandou minha mãe viajar comigo. Não por carinho, mas porque sabia que, com ela ao meu lado, as colunas de fofoca recuariam. E, como sempre, funcionou.

Eu não era apenas uma mulher tentando se recompor. Eu era uma Bennet. E estava voltando para o meu império.

Minha mãe cruzou os braços diante do espelho do quarto de hotel cinco estrelas em Paris, observando minha expressão com aquele olhar clínico de quem sempre sabia o que dizer e quando dizer.

— Você está muito apagadinha. — comentou, com a voz doce, mas firme. — Precisa de uma repaginada. Imagem é poder, Eliza. E poder é tudo.

Ela se aproximou e ajeitou uma mecha do meu cabelo, como se quisesse me reconstruir com as próprias mãos.

— Seu pai conversou comigo hoje de manhã. — continuou. — Ele tem alguns planos poderosos para a Bennet Crown, e esses planos incluem você. Em destaque. Na vitrine. Como o rosto da nova era da joalheria mais respeitada da América.

Seu tom era leve, mas não havia margem para dúvidas: aquela era a oportunidade.

De me reposicionar. De brilhar novamente.

De mostrar a Nathan, e ao mundo, que quem subestimou uma Bennet, cometeu um erro irreparável.

Eu me levantei, ainda com os traços do luto silencioso que meu casamento havia deixado, mas algo dentro de mim estava despertando. Um instinto antigo. Um brilho há tempos apagado.

Eu era a princesa do império Bennet. E agora, eu voltaria como rainha.

— Então meu pai quer que eu estampe a nova coleção da Bennet Crown? — perguntei, com a voz contida, mas o coração acelerando.

Minha mãe sorriu com sutileza, cruzando as pernas com elegância no sofá da suíte.

— Não apenas isso. — respondeu. — Ele te quer na presidência.

Fiquei em silêncio. O peso da palavra ainda pairava no ar quando ela completou, com um toque de ironia:

— Como CEO, filha. Como deveria ter sido, ao invés de você ter… cometido esse pequeno deslize.

“Pequeno deslize” foi assim que ela escolheu chamar meu casamento com Nathaniel Walker.

Não traição, nem humilhação, nem o abandono emocional que me engoliu por dois anos.

Apenas… um desvio de rota.

— Ele quer que você mostre ao mercado que continua no controle. Que nenhum Walker vai apagar o brilho de uma Bennet. E, sejamos sinceras, Eliza… — ela disse, levantando-se e pegando uma taça de champanhe. — É a melhor resposta que você pode dar.

Abaixei os olhos por um instante. Me perguntei se estava pronta para assumir aquele trono.

Mas, no fundo, já sabia a resposta.

A verdade era que aquela proposta não era apenas uma tentativa de reposição de imagem. Era uma chance de reconstrução. E eu não a deixaria escapar.

Levantei o queixo.

— Então está decidido.

Se era pra voltar… que fosse do único jeito que uma Bennet voltaria. Em grande estilo. Com a cabeça erguida, o salto alto e o império aos meus pés.

— Mas tem uma condição… — minha mãe disse, com aquele olhar contido, que sempre precedia uma notícia indesejada.

Na mesma hora, senti meu corpo enrijecer. Porque é claro que havia uma condição. Sempre havia.

— Pode falar, mãe. — respondi, cruzando as pernas com elegância, mas com a alma em alerta.

Ela inspirou devagar, escolhendo bem as palavras.

— Seu pai está agilizando o processo de divórcio. Quer te desvincular completamente do Nathan, tanto jurídica quanto socialmente. E, por isso, decidiu que você vai passar um ano fora de Nova Iorque. Um ano inteiro longe de tudo que te conecta à antiga Eliza. Será um período de reestruturação, de silêncio. E, principalmente, de preparação. Para que, quando voltar… volte pronta para assumir a presidência da Bennet Crown.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Um ano. Um ano inteira afastada da cidade, dos holofotes, de qualquer resquício da minha antiga vida.

— Seu pai já providenciou tudo. Locais, segurança, uma nova equipe de imagem. Ele quer que você fique incomunicável nesse período. In-rastreável. Ele mesmo se certificou disso.

— Ele apagou meus rastros?

— Apagou. Inclusive os que o Nathan possa tentar seguir. Seu pai não quer apenas te proteger… ele quer mostrar quem manda nesse império. E, desta vez, a jóia principal… é você.

— O Nathan não vai me procurar mãe. Ele não se importou comigo quando estávamos casados, não vai ser agora que vai fazer.

Ela respirou fundo, depois se aproximou e segurou meu rosto entre as mãos, como fazia quando eu era criança e precisava lembrar quem era.

— Eliza… você não faz ideia da preciosidade que é. Você se entregou a um homem que só enxergava poder. Mas agora, você é o poder. E se ele for inteligente — o que sabemos que ele é — vai perceber isso tarde demais.

Assenti devagar, sentindo o peso de cada palavra.

Por fora, firme. Por dentro, desmoronando em silêncio.

Tudo que eu quis, desde o início, era ser vista. Só isso. Ser amada, não pela herança, nem pelos diamantes, mas por quem eu era no escuro despida de joias, títulos e perfeição.

Mas Nathan nunca olhou de verdade.

E agora, quando ele finalmente olhar, vai ser de longe. Porque eu não pertenço mais a ele.

Sou uma Bennet.

Sou herdeira de um império que forja mulheres de aço. E agora, diante de tudo que perdi, descobri o que sou: a coroa.

E Nathan Walker?

Bom… ele pode ser rei no seu próprio castelo.

Mas a partir de agora… ele é apenas meu rival.

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