Amélia
A noite estava silenciosa, abafada. Amélia tentava dormir, mas seu corpo rejeitava o descanso. O bebê mexia em seu ventre como se também sentisse a inquietação dela. O ar do quarto parecia mais denso do que nunca. Talvez fosse o cheiro das flores colocadas por Sergei — ele enchia o ambiente com perfumes doces, tentando criar uma ilusão de segurança e carinho. Mas tudo ali era artificial, sufocante.
Uma prisão bonita, tudo que Amélia pensar é voltar para a sua casa.
Ela fechou os olhos, exausta, e então o pesadelo a tomou com a força de uma tempestade.
Foi tudo tão real e verdadeiro que deixou Amélia perturbada.
Estava de volta à sua casa de infância.
Tudo era igual: o sofá de couro gasto, os brinquedos no canto da sala, a luminária que piscava quando o vento entrava pela janela mal vedada. Amélia se viu pequena novamente, com não mais do que sete anos, escondida dentro do armário da mãe, ouvindo os gritos.
Os mesmos grito que causaram pesadelos nela a sua vida toda.
— Sof