A manhã de sábado nasceu cinzenta e úmida, envolvendo São Paulo em um abraço melancólico. No pequeno apartamento no centro, o ar era denso com uma intimidade estranha. A confissão de Gabriel na noite anterior não havia quebrado a tensão; havia-a transformado. O medo que Lara sentia dele, embora ainda presente, agora era matizado por uma complexa camada de empatia. Ela o via não apenas como a origem de seu pesadelo, mas como um prisioneiro dele, assim como ela.
Acordaram com os sons da cidade despertando: buzinas distantes, o grito de um vendedor ambulante, o barulho dos ônibus. Marina, que dormira no sofá, foi a primeira a verbalizar o que todos pensavam.
— Certo. Tivemos uma noite de revelações e sentimentos — ela disse, a voz pragmática de quem tenta colocar ordem no caos. — Mas o lobo ainda está na jaula na casa do Tio Alves. Qual é o próximo passo? Não podemos mantê-lo lá para sempre.
Gabriel, que passara a noite em uma vigília silenciosa perto da janela, virou-se. A exaustão era