A estrada se tornou um purgatório. Um borrão de asfalto, luzes de neon de postos de gasolina e a escuridão impenetrável do campo brasileiro. Gabriel e Lara dirigiam em turnos, embora o “descanso” de Gabriel fosse pouco mais que um estado de dormência alerta no banco do passageiro, o corpo relaxado, mas a mente ainda em guerra. Lara, por sua vez, dirigia com uma concentração feroz, a mandíbula travada, os olhos fixos na linha branca que desaparecia sob o carro. A cada hora que passava, a imagem do rosto aterrorizado de Marina se tornava mais nítida em sua mente.
Eles se moviam em uma bolha de exaustão e cafeína barata. As conversas eram curtas, funcionais, focadas na sobrevivência. “Precisa de água?” “Sua vez de dirigir.” “Vê aquele carro há muito tempo?” Mas no silêncio entre as palavras, algo mais crescia. Uma familiaridade forçada. Lara aprendeu a ler os pequenos sinais da tensão de Gabriel: o jeito como seus dedos tamborilavam no volante, a forma como seu olhar se afiava ao ver um