O silêncio que se abateu sobre o quarto de motel era mais violento que qualquer tiroteio. As palavras de Gabriel — “O primeiro era eu” — pairavam no ar, tóxicas, mudando a própria composição da realidade de Lara. O homem à sua frente, seu salvador, era indistinguível do monstro que assombrava sua imaginação.
O choque inicial de Lara, que a deixara paralisada, começou a se transformar em algo mais quente e perigoso: uma fúria gelada. Ela se afastou dele, recuando até a parede oposta, como se o próprio ar ao redor dele pudesse contaminá-la.
— Você... — ela começou, a voz um sussurro trêmulo que rapidamente ganhou força. — Você estava lá. O tempo todo. Cada vez que eu abria a cortina da minha janela, cada vez que eu saía no jardim... você estava me observando? Com aquele seu rifle?
Ele não desviou o olhar. A honestidade cruel era a única coisa que lhe restava.
— Sim.
A confirmação a atingiu como um tapa. A violação era tão profunda, tão absoluta, que ela sentiu o estômago revirar.
— Você