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Capítulo 4 — O Começo do Jogo

A sala parecia vibrar.

Elara ainda sentia a marca do toque de Kael no pulso — firme, quente, autoritário — mesmo depois que ele o soltou. Era como se a pele dela registrasse tudo: a pressão, a intenção, o desafio embutido naquele gesto.

Ela tentou disfarçar, endireitando a postura. Só então percebeu Leon parado à porta, observando a cena com um arqueamento discreto de sobrancelha.

— Interrompi? — a pergunta dele vinha com um sorriso educado, mas o tom era… curioso. Talvez até provocador.

Kael não desviou o olhar de Elara. Era como se Leon nem estivesse ali.

— Não — respondeu ele, com calma ensaiada. — Estávamos apenas finalizando.

A frase parecia ter um duplo sentido — e Elara sentiu.

Kael por fim voltou a atenção ao novo coordenador.

— Harper. Entre.

Leon entrou e fechou a porta com suavidade. Ele trajava uma camisa branca dobrada nos antebraços e calça social escura. Diferente de Kael, que transmitia poder frio e calculado, Leon carregava algo mais leve — uma confiança descontraída, quase arrogante… mas atraente.

Ele estendeu a mão para Elara.

— Acho que ainda não fomos apresentados formalmente. Sou Leon.

Ela apertou a mão dele, tentando ignorar o olhar de Kael que queimava em suas costas.

— Elara Martins — respondeu.

O sorriso de Leon se aprofundou, como se gostasse de memorizar nomes que importavam.

— Prazer conhecer você.

Kael pigarreou — baixo, mas tão carregado de significado que parecia ecoar pelo chão.

— Vamos começar — disse ele, caminhando até a mesa de reuniões.

Elara sentou-se. Leon sentou ao lado dela — propositalmente perto demais. Kael, no entanto, escolheu a cadeira à frente dos dois, como se observasse peças em um tabuleiro.

O encontro começou com análises, prazos e metas. Kael falava pouco, porém cada frase dele era objetiva, precisa, contundente. Leon, ao contrário, fazia comentários inteligentes, sugestões criativas e às vezes — propositalmente — lançava olhares rápidos para Elara, como se pedisse aprovação silenciosa.

E ela sentia.

O contraste.

O peso.

O jogo.

— Elara — chamou Kael, repentinamente.

Ela ergueu os olhos.

— Você concorda com a projeção dele?

Kael não olhava para o relatório. Ele olhava direto nela. Como se a pergunta fosse outra:

Você está escolhendo o lado dele?

Elara respirou, controlando o nervosismo.

— Concordo com parte da projeção — respondeu. — Mas acredito que alguns pontos precisam de ajustes, especialmente na previsão de engajamento e no fluxo de feedback interno.

Leon sorriu, como se tivesse gostado da resposta.

— Inteligente — murmurou.

Kael observou cada expressão — dela e dele — como quem registra, avalia… classifica.

A reunião durou mais do que deveria.

Quando terminou, Leon recolheu os papéis e virou-se para ela:

— Se tiver tempo depois do almoço, gostaria de discutir alguns detalhes do projeto. Pode ser?

— Pode — ela respondeu automaticamente.

Kael interrompeu:

— Harper.

Leon levantou o olhar.

— Elara já tem tarefas suficientes por enquanto. Envie os materiais para o sistema. Ela revisará quando terminar.

Leon sorriu — dessa vez sem esconder provocação.

— Claro. Como quiser, senhor Draven.

Ele saiu.

A porta se fechou.

E só então Kael falou — voz baixa, perigosa.

— Você parece confortável com ele.

Elara piscou, surpresa.

— É apenas trabalho.

— Trabalho… — ele repetiu, como se experimentasse a palavra na língua. — Alguns confundem interesse profissional com atenção pessoal.

Ela cruzou os braços — uma tentativa de proteção, embora soubesse que ele percebia tudo.

— Se está insinuando algo, diga de forma clara.

Kael levantou-se.

Devagar.

Controlado.

Ele se aproximou até ficar diante dela — tão perto que ela sentiu o perfume dele, amadeirado, intenso, impossível de ignorar.

— Estou dizendo — murmurou — que algumas pessoas gostam de testar limites.

Ela manteve o olhar firme, embora o coração martelasse.

— E outras gostam de controlá-los — rebateu.

Os olhos dourados dele se estreitaram, como se a resposta o divertisse.

— Talvez — disse ele. — Mas o controle só existe até alguém decidir desafiar.

Elara sentiu o ar prender nos pulmões.

Kael se inclinou, os lábios chegando perigosamente perto do ouvido dela — sem tocar.

— Leon não é uma ameaça — disse com confiança absoluta. — Não para mim.

Ela engoliu seco.

— Isso não é uma disputa — tentou argumentar.

Ele se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos dela.

— Tudo é uma disputa, Elara. Só existem duas perguntas que importam:

Ele ergueu o queixo, analisando cada detalhe do rosto dela.

— Quem cede primeiro?

E então:

— E quem domina no final?

O silêncio ficou pesado — carregado, denso, tentador.

Kael deu um passo para trás, quebrando a proximidade.

— Pode ir — disse ele, como se nada tivesse acontecido. — O dia está apenas começando.

Elara levantou-se devagar e saiu.

Mas quando a porta se fechou atrás dela, ela encostou-se na parede por um breve instante, tentando recuperar o fôlego.

Do outro lado do corredor, Leon estava parado — como se estivesse esperando por ela.

— Você parece… abalada — disse ele, estudando seu rosto.

Elara endireitou a postura.

— Não estou.

Leon sorriu — aquele sorriso que parecia ler aquilo que ela tentava esconder.

— Ótimo — disse ele com calma. — Porque quero te fazer uma pergunta.

Ela o encarou.

— Qual?

Ele se aproximou apenas o suficiente para a voz ficar mais íntima — mas não invasiva.

— Você sempre reage assim com homens que tentam te controlar? Ou o problema é só com ele?

Elara sentiu o sangue correr mais rápido.

E pela primeira vez percebeu… que talvez estivesse presa entre dois mundos opostos.

O perigo frio de Kael.

E a provocação calculada de Leon.

Triângulo?

Não.

Era um campo minado.

E ela acabara de dar o primeiro passo.

Elara não respondeu de imediato. Era como se as palavras de Leon exigissem mais do que uma resposta rápida — exigissem coragem.

— Eu não tenho um problema com autoridade — disse finalmente. — Tenho problema com pessoas que acham que podem ditar quem eu sou.

Leon arqueou uma sobrancelha, interessado.

— Então você não deixa ninguém te dominar?

A palavra caiu entre eles como faísca.

Elara respirou fundo.

— Eu deixo… quando eu escolho — respondeu, firme.

Leon sorriu — e dessa vez não era provocação, era reconhecimento.

— Então você é perigosa — disse ele, com uma voz baixa e quase satisfeita. — Gosto disso.

Ela cruzou os braços.

— Se veio me testar, vai perder tempo.

— Não, Elara — ele corrigiu suavemente — não estou te testando. Estou observando.

— Observando o quê?

Leon inclinou-se levemente para a frente, mantendo contato visual sem recuar.

— Quem você será no final dessa história.

A mulher que foge dele…

Ou a que faz ele perder o controle.

O ar ficou pesado.

Uma tensão diferente da de Kael — menos brutal, mais insinuada.

Como se Leon não quisesse dominar o espaço… mas sim entrar nele.

— Acredite — disse ele baixinho — ninguém chega perto de Kael sem se queimar.

Mas… algumas pessoas nasceram para o fogo.

Elara sentiu algo despertar — não medo, não dúvida… mas curiosidade.

— E você? — perguntou. — Está no fogo… ou é parte dele?

Leon sorriu, recuando meio passo, como se desse a ela tempo para pensar — algo que Kael jamais faria.

— Eu?

Eu sou a faísca.

E então ele piscou — lento — antes de concluir:

— A que começa tudo.

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