Mundo de ficçãoIniciar sessãoA sala parecia vibrar.
Elara ainda sentia a marca do toque de Kael no pulso — firme, quente, autoritário — mesmo depois que ele o soltou. Era como se a pele dela registrasse tudo: a pressão, a intenção, o desafio embutido naquele gesto. Ela tentou disfarçar, endireitando a postura. Só então percebeu Leon parado à porta, observando a cena com um arqueamento discreto de sobrancelha. — Interrompi? — a pergunta dele vinha com um sorriso educado, mas o tom era… curioso. Talvez até provocador. Kael não desviou o olhar de Elara. Era como se Leon nem estivesse ali. — Não — respondeu ele, com calma ensaiada. — Estávamos apenas finalizando. A frase parecia ter um duplo sentido — e Elara sentiu. Kael por fim voltou a atenção ao novo coordenador. — Harper. Entre. Leon entrou e fechou a porta com suavidade. Ele trajava uma camisa branca dobrada nos antebraços e calça social escura. Diferente de Kael, que transmitia poder frio e calculado, Leon carregava algo mais leve — uma confiança descontraída, quase arrogante… mas atraente. Ele estendeu a mão para Elara. — Acho que ainda não fomos apresentados formalmente. Sou Leon. Ela apertou a mão dele, tentando ignorar o olhar de Kael que queimava em suas costas. — Elara Martins — respondeu. O sorriso de Leon se aprofundou, como se gostasse de memorizar nomes que importavam. — Prazer conhecer você. Kael pigarreou — baixo, mas tão carregado de significado que parecia ecoar pelo chão. — Vamos começar — disse ele, caminhando até a mesa de reuniões. Elara sentou-se. Leon sentou ao lado dela — propositalmente perto demais. Kael, no entanto, escolheu a cadeira à frente dos dois, como se observasse peças em um tabuleiro. O encontro começou com análises, prazos e metas. Kael falava pouco, porém cada frase dele era objetiva, precisa, contundente. Leon, ao contrário, fazia comentários inteligentes, sugestões criativas e às vezes — propositalmente — lançava olhares rápidos para Elara, como se pedisse aprovação silenciosa. E ela sentia. O contraste. O peso. O jogo. — Elara — chamou Kael, repentinamente. Ela ergueu os olhos. — Você concorda com a projeção dele? Kael não olhava para o relatório. Ele olhava direto nela. Como se a pergunta fosse outra: Você está escolhendo o lado dele? Elara respirou, controlando o nervosismo. — Concordo com parte da projeção — respondeu. — Mas acredito que alguns pontos precisam de ajustes, especialmente na previsão de engajamento e no fluxo de feedback interno. Leon sorriu, como se tivesse gostado da resposta. — Inteligente — murmurou. Kael observou cada expressão — dela e dele — como quem registra, avalia… classifica. A reunião durou mais do que deveria. Quando terminou, Leon recolheu os papéis e virou-se para ela: — Se tiver tempo depois do almoço, gostaria de discutir alguns detalhes do projeto. Pode ser? — Pode — ela respondeu automaticamente. Kael interrompeu: — Harper. Leon levantou o olhar. — Elara já tem tarefas suficientes por enquanto. Envie os materiais para o sistema. Ela revisará quando terminar. Leon sorriu — dessa vez sem esconder provocação. — Claro. Como quiser, senhor Draven. Ele saiu. A porta se fechou. E só então Kael falou — voz baixa, perigosa. — Você parece confortável com ele. Elara piscou, surpresa. — É apenas trabalho. — Trabalho… — ele repetiu, como se experimentasse a palavra na língua. — Alguns confundem interesse profissional com atenção pessoal. Ela cruzou os braços — uma tentativa de proteção, embora soubesse que ele percebia tudo. — Se está insinuando algo, diga de forma clara. Kael levantou-se. Devagar. Controlado. Ele se aproximou até ficar diante dela — tão perto que ela sentiu o perfume dele, amadeirado, intenso, impossível de ignorar. — Estou dizendo — murmurou — que algumas pessoas gostam de testar limites. Ela manteve o olhar firme, embora o coração martelasse. — E outras gostam de controlá-los — rebateu. Os olhos dourados dele se estreitaram, como se a resposta o divertisse. — Talvez — disse ele. — Mas o controle só existe até alguém decidir desafiar. Elara sentiu o ar prender nos pulmões. Kael se inclinou, os lábios chegando perigosamente perto do ouvido dela — sem tocar. — Leon não é uma ameaça — disse com confiança absoluta. — Não para mim. Ela engoliu seco. — Isso não é uma disputa — tentou argumentar. Ele se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos dela. — Tudo é uma disputa, Elara. Só existem duas perguntas que importam: Ele ergueu o queixo, analisando cada detalhe do rosto dela. — Quem cede primeiro? E então: — E quem domina no final? O silêncio ficou pesado — carregado, denso, tentador. Kael deu um passo para trás, quebrando a proximidade. — Pode ir — disse ele, como se nada tivesse acontecido. — O dia está apenas começando. Elara levantou-se devagar e saiu. Mas quando a porta se fechou atrás dela, ela encostou-se na parede por um breve instante, tentando recuperar o fôlego. Do outro lado do corredor, Leon estava parado — como se estivesse esperando por ela. — Você parece… abalada — disse ele, estudando seu rosto. Elara endireitou a postura. — Não estou. Leon sorriu — aquele sorriso que parecia ler aquilo que ela tentava esconder. — Ótimo — disse ele com calma. — Porque quero te fazer uma pergunta. Ela o encarou. — Qual? Ele se aproximou apenas o suficiente para a voz ficar mais íntima — mas não invasiva. — Você sempre reage assim com homens que tentam te controlar? Ou o problema é só com ele? Elara sentiu o sangue correr mais rápido. E pela primeira vez percebeu… que talvez estivesse presa entre dois mundos opostos. O perigo frio de Kael. E a provocação calculada de Leon. Triângulo? Não. Era um campo minado. E ela acabara de dar o primeiro passo. Elara não respondeu de imediato. Era como se as palavras de Leon exigissem mais do que uma resposta rápida — exigissem coragem. — Eu não tenho um problema com autoridade — disse finalmente. — Tenho problema com pessoas que acham que podem ditar quem eu sou. Leon arqueou uma sobrancelha, interessado. — Então você não deixa ninguém te dominar? A palavra caiu entre eles como faísca. Elara respirou fundo. — Eu deixo… quando eu escolho — respondeu, firme. Leon sorriu — e dessa vez não era provocação, era reconhecimento. — Então você é perigosa — disse ele, com uma voz baixa e quase satisfeita. — Gosto disso. Ela cruzou os braços. — Se veio me testar, vai perder tempo. — Não, Elara — ele corrigiu suavemente — não estou te testando. Estou observando. — Observando o quê? Leon inclinou-se levemente para a frente, mantendo contato visual sem recuar. — Quem você será no final dessa história. A mulher que foge dele… Ou a que faz ele perder o controle. O ar ficou pesado. Uma tensão diferente da de Kael — menos brutal, mais insinuada. Como se Leon não quisesse dominar o espaço… mas sim entrar nele. — Acredite — disse ele baixinho — ninguém chega perto de Kael sem se queimar. Mas… algumas pessoas nasceram para o fogo. Elara sentiu algo despertar — não medo, não dúvida… mas curiosidade. — E você? — perguntou. — Está no fogo… ou é parte dele? Leon sorriu, recuando meio passo, como se desse a ela tempo para pensar — algo que Kael jamais faria. — Eu? Eu sou a faísca. E então ele piscou — lento — antes de concluir: — A que começa tudo.






