Mundo de ficçãoIniciar sessãoO dia seguinte chegou mais rápido do que Elara gostaria. Mesmo tentando evitar, Kael Draven ainda invadia seus pensamentos — não apenas como chefe, mas como alguém que a desafiava em um nível que ela não entendia.
O ar condicionado do escritório estava frio demais, mas ela sentia um calor estranho na pele. Talvez fosse nervoso… ou algo pior: interesse. Enquanto organizava relatórios em sua mesa temporária, ouviu passos firmes se aproximando. Ela endireitou a postura instintivamente. — Martins. — A voz grave de Kael ecoou antes mesmo que ela o visse. Ela levantou o olhar — e lá estava ele: impecável, intenso, como se carregasse o controle absoluto do ambiente. — Senhor Draven — disse, tentando manter a voz firme. Ele analisou rapidamente o que ela fazia. Era impossível ignorar a forma como ele a observava: não como superior avaliando uma funcionária… mas como algo mais. — Você estará no projeto piloto com o diretor de expansão. — disse, seco, como se não desse espaço para dúvidas. — Claro. — Ela respirou fundo — Posso perguntar por quê eu? Ele inclinou levemente a cabeça. Era quase um sorriso… quase. — Porque quero ver até onde você aguenta — respondeu simplesmente. Elara sentiu a respiração prender no peito. Até onde… eu aguento? Ela engoliu seco. — E… quem é o diretor? Antes que Kael respondesse, outra voz surgiu atrás dela — uma voz suave, calorosa e completamente diferente do tom frio de Kael. — Sou eu. Elara virou-se e encontrou um homem alto, cabelos castanho-claros levemente bagunçados, olhos verdes acolhedores e um sorriso que contrastava perfeitamente com a rigidez do CEO. Ele estendeu a mão. — Leon Bennett. Diretor de expansão. E… aparentemente seu parceiro de caos. Kael não gostou do sorriso dele. Não gostou do tom. Não gostou da forma como Leon segurou a mão dela por um segundo a mais do que o necessário. — Bennett — Kael cortou — Trabalhe com ela no material até o fim da semana. E mantenha-me informado. Leon ergueu uma sobrancelha. — Quer relatórios… ou atualizações sobre o que ela é capaz? O olhar de Kael ficou afiado. — Quero resultados. E disciplina. Leon sorriu — um sorriso que tinha desafio. — Claro, chefe. Kael olhou para Elara mais uma vez — lento, intenso, silencioso. Quase uma advertência… ou território. Depois saiu sem olhar para trás. Quando ele finalmente desapareceu no corredor, Leon soltou uma leve risada. — Ele sempre é assim ou você o deixa mais… tenso? Elara sentiu o coração acelerar. — Eu? Não. Ele só… é assim sempre. Leon inclinou-se um pouco, como se estudasse o rosto dela. — Hmm. Sei ler pessoas, Elara. E vou te dizer algo: ele não olha para ninguém daquele jeito. Ela desviou o olhar, engolindo a verdade que mal era capaz de admitir para si mesma. — Não sei do que está falando. — Claro que sabe — Leon sorriu — mas tudo bem. Não vou forçar. Vamos trabalhar. Durante horas, eles revisaram números, metas e estratégias. Leon era inteligente, rápido, eficiente — e diferente de Kael, fazia perguntas, ouvia, brincava. — Seu raciocínio é incrível — elogiou ele quando ela ajustou uma projeção. Elara sorriu, surpresa com o reconhecimento. — Obrigada. Fiz o melhor que pude. — Melhor que pôde? — Leon inclinou-se para ela — Você fez melhor do que muita gente experiente faria. O elogio aqueceu. Diferente de Kael… Leon fazia com que ela se sentisse capaz. Mas era impossível ignorar: mesmo ali, mesmo com Leon tão perto, a imagem que surgia em sua mente era a de um olhar dourado — frio, firme, impossível de decifrar. Era irritante. Desconfortável. E viciante. Quando o expediente estava quase no fim, Leon chamou: — Quer sair para comer algo? — perguntou casualmente — Você trabalhou duro. Merece. Elara ia responder quando ouviu passos e sentiu… antes mesmo de ver. Kael. Ele não entrou — apenas ficou parado próximo o suficiente para ouvir. Ela percebeu. Leon também percebeu. E foi aí que ela falou: — Sim, quero. Um músculo no maxilar de Kael se contraiu — imperceptível para qualquer um… menos para ela. Leon sorriu satisfeito. — Ótimo. Vamos. Kael finalmente falou — lento, controlado, perigoso: — Bennett. Leon virou-se com um sorriso falso. — Sim, chefe? — Não deixe ela se atrasar amanhã. Leon piscou, provocador. — Não se preocupe. Vou cuidar bem dela. Kael encarou Elara — e havia fogo naquele olhar. Não pedido. Não raiva. Possessividade. Ele não disse nada. Não precisou. Então virou-se e foi embora. Elara sentiu o estômago revirar. Leon apenas riu baixo. — Parece que acabei de comprar uma briga sem querer. Ela olhou para a porta por onde Kael saiu. Ou talvez não tão sem querer assim. E, pela primeira vez, ela percebeu: Talvez estivesse brincando com fogo. E talvez — só talvez — quisesse se queimar. Elara tentou ignorar a sensação incômoda que ficou depois da troca de olhares com Kael. Era irritante como ele conseguia afetá-la tanto sem ao menos tentar. Leon, por outro lado, era previsível — gentil, seguro, e claramente interessado. A versão controlada do caos que Kael representava. — Você tá aqui comigo? — Leon brincou, tocando de leve o pulso dela. — Estou — ela respondeu, embora soasse mais para si mesma do que para ele. — Hm. Não parece — ele provocou com um sorriso, inclinando-se um pouco. — Sua mente estava longe… ou com alguém. Ela ergueu o olhar devagar. — Alguém? — repetiu com ironia. — E quem seria esse "alguém"? Leon deu um riso nasal, olhando de canto de olho para Kael — que estava mais afastado, mas observava tudo, braços cruzados, expressão indecifrável… e atenção fixa em Elara. Kael percebeu o olhar de Leon. Depois o dela. E então veio aquele sorriso. Devagar. Perigoso. Seguro demais. O tipo de sorriso que dizia sem palavras: "Você é minha distração favorita." O coração dela acelerou — irritação e algo mais misturado. Para responder sem palavras, Elara se aproximou um pouco mais de Leon, o suficiente para parecer intencional. — Se alguém quisesse me sequestrar — ela murmurou baixo — teria que aprender a me merecer primeiro. Ela sentiu — sem precisar olhar — a mudança no ar. Kael viu. E definitivamente não gostou.






