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Capítulo 5 — Territórios e Limites

O escritório estava mais silencioso que o normal naquela manhã, como se o próprio ambiente percebesse a tensão crescendo desde o encontro no estacionamento.

Elara digitava relatórios com foco extremo, tentando ignorar o fato de que Leon, sentado a poucos metros, lançava olhares que pareciam estudá-la com a mesma paciência de um caçador.

Ela fingia não notar.

Mas notava.

Cada segundo.

Porém, pior que os olhares de Leon… era a ausência de Kael.

Ele não desceu à área administrativa como sempre fazia. Não convocou reuniões. Não passou pelo corredor. Não exigiu nada — e isso a incomodava mais do que deveria.

Por que isso importa? pensou, irritada consigo mesma.

Deveria estar focada no trabalho.

Mas a mente insistia em voltar ao momento em que Kael quase a beijou.

Ela sentiu o corpo esquentar com a lembrança — o toque firme no queixo, o olhar intenso, a respiração dele misturada à dela como promessa.

E ela… tinha recuado.

Por autopreservação?

Ou medo do que sentiria se não recuasse?

Antes que pudesse aprofundar o pensamento, Leon se inclinou para frente.

— Você está inquieta.

Não era uma pergunta.

Elara não levantou o olhar.

— Estou concentrada.

— Não — ele rebateu com calma — você está em conflito.

Ela finalmente ergueu os olhos, irritada.

— Você sempre fala como se soubesse tudo sobre mim.

— Não tudo — Leon disse com um meio sorriso — mas sei o suficiente.

— É mesmo? — ela cruzou os braços. — Então me diga: por que estou em conflito?

Leon apoiou os cotovelos na mesa, olhar firme, sem hesitação.

— Porque alguém finalmente conhece sua força… e alguém finalmente desafia seu controle.

A frase a atingiu como um impacto.

Leon continuou, voz baixa, sem pressa:

— E você não sabe qual dos dois quer enfrentar primeiro.

O silêncio entre eles se tornou quase palpável.

Elara tentou responder — mas antes que abrisse a boca, a porta da sala se abriu.

E o mundo pareceu prender a respiração.

Kael entrou.

Calmo.

Preciso.

Imponente.

O ar mudou — como se todos instintivamente entendessem quem carregava mais poder ali.

Ele não olhou para ninguém exceto Elara — e o olhar dele não era neutro.

Era reivindicação.

Silenciosa, porém nítida.

Leon recostou-se na cadeira, como alguém que esperava exatamente aquela reação.

— Sr. Draven — disse ele com naturalidade — estávamos falando de foco e disciplina. Parece que alguns assuntos exigem… condução firme.

Kael não virou o rosto para ele.

Mas a atmosfera ficou gelada.

— Alguns assuntos — disse Kael, lentamente — exigem limites muito claros.

Leon retrucou com um leve arqueamento de sobrancelha.

— Limites são interessantes. Especialmente quando alguém tenta quebrá-los.

A troca não era apenas profissional.

Era territorial.

Elara sentiu isso.

Kael finalmente desviou o olhar para Leon — não com irritação, mas com algo quase perigoso.

— Está havendo confusão aqui — disse Kael, cada palavra afiada — Elara não é sua colega de debate. É funcionária da minha empresa. E sua conduta com ela será profissional.

Leon sorriu — não provocado, mas como quem acabava de receber exatamente o que queria.

— Claro. Só uma observação: funcionários ainda são pessoas. E pessoas… fazem escolhas.

Kael deu um passo adiante — não agressivo, apenas preciso.

— Nem todas.

Elara respirava tensa, sentindo como se fosse puxada por duas forças contrárias — ambas intensas, ambas confiantes, ambas dominantes de formas diferentes.

Leon quebrou o silêncio primeiro.

— Com licença. Tenho uma reunião no departamento jurídico.

Ele passou por Kael, devagar, deliberadamente, quase como provocação calculada.

Antes de sair, inclinou-se discretamente na direção de Elara e sussurrou, baixo o suficiente para ser íntimo — mas alto o suficiente para Kael perceber o gesto:

— Ainda acho que você nasceu para o fogo.

E saiu.

A porta se fechou.

Silêncio.

Kael caminhou até a mesa dela, e cada passo parecia ecoar autoridade.

— Eu quero saber — disse ele, firme, porém contido — exatamente o que está acontecendo entre você e Leon.

Elara arregalou os olhos.

— Nada. Nós só conversamos.

Kael aproximou-se ainda mais — sem tocá-la, mas perto o suficiente para ela sentir o calor dele.

— Leon não conversa — respondeu. — Ele invade. Ele provoca. E ele tenta ver até onde pode ir.

Elara engoliu seco.

— E você não faz o mesmo, Kael?

A pergunta saiu antes que ela pudesse se censurar.

Kael ergueu o queixo — e algo em seu olhar mudou.

Não raiva.

Mas algo mais intenso — vulnerabilidade transformada em controle.

— Eu não jogo com você — disse. — Eu quero você.

O mundo sumiu por um segundo.

Elara piscou, tentando recuperar o ar.

— Você… não pode querer algo assim. Você é meu chefe.

Kael aproximou-se mais.

— Não me interessa o título. Me interessa você.

Sua voz era quase um toque.

— Mas se eu tenho que disputar sua atenção — continuou — então não recuo.

Elara sentiu algo tremer dentro dela.

Ela queria responder.

Queria dizer que era absurdo.

Que era arriscado.

Que era impossível.

Mas, quando finalmente falou, sua voz saiu baixa — sincera demais:

— Eu não sei o que fazer com você, Kael.

Ele soltou um leve sorriso — raro, intenso, perigoso.

— Não precisa saber agora.

Então seu tom mudou — firme, definitivo:

— Apenas lembre uma coisa: você não está perdida. Está escolhendo.

E antes que ela pudesse responder, ele se afastou — deixando o perfume, o peso, e a promessa de algo inevitável.

O silêncio pairou pesado entre nós. Kael continuava olhando para mim como se esperasse que eu fraquejasse, como se pudesse decifrar cada sentimento que eu tentava enterrar. Eu respirei fundo, mantendo a postura firme, mesmo com o coração acelerado de um jeito irritante.

— Então é isso? — ele perguntou por fim, a voz baixa, mas afiada. — Você vai fingir que nada aconteceu naquela sala?

Minha garganta secou.

— Nada aconteceu, Kael. — respondi, tentando passar segurança que eu definitivamente não sentia. — Foram só palavras. Discussões acontecem.

O sorriso que curvou os lábios dele não foi de humor. Foi quase... perigoso.

— Palavras? — ele repetiu lento, dando um passo em minha direção. — Você tremeu quando eu cheguei perto. Não mente pra mim, Elara.

Meu corpo traiçoeiro reagiu antes mesmo da minha mente processar. Calor subiu pela minha pele, e eu engoli em seco, desviando o olhar.

Kael percebeu. Claro que percebeu.

Ele não tocou em mim, mas a distância curta era tão intensa quanto qualquer contato físico.

— Isso vai ser interessante. — murmurou, recuando lentamente, como quem já tinha vencido uma batalha que eu nem sabia que estava lutando.

— Não vai ser nada. — rebati.

— Ah, vai sim. — ele disse antes de virar as costas. — Porque você pode fugir, Elara… mas eu não estou com pressa.

E então ele saiu, deixando a porta se fechar devagar, como uma provocação silenciosa.

Eu respirei fundo, tentando retomar o controle — até meu celular vibrar.

Leon: Cheguei em casa. Ainda pensando em você. Boa noite, Elara.

Meu estômago deu um leve embrulho — não sei se de nervoso ou expectativa.

Dois homens.

Dois perigos diferentes.

E eu tentando fingir que ainda tinha controle de alguma coisa.

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