Quando uma carta vira detonador
LEONARDO CASSANI
Chego à Cassani’s depois do almoço. Ando pelo corredor com o passo medido de sempre — a arquitetura da empresa me dá segurança, mas hoje até as paredes parecem sussurrar. Sou abordado pela Diana antes de alcançar a recepção.
— Senhor Leonardo, desculpa, mas… — ela abre a boca e trava, procurando o tom certo.
— Boa tarde, Diana. O que houve? — pergunto, já sentindo que algo fugiu do esperado.
— Chegou uma correspondência para o senhor. Eu deixei com o André e ele… — ela encolhe os ombros — não demorou, voltou e me devolveu.
Pego o envelope. O lacre está rompido. O brilho do selo faz meu estômago gelar: anel das serpentes. Não me ofendo por o André ter aberto — a curiosidade dele é parecida com a minha —, mas há um resto de irritação: por que a carta foi entregue a ele e não pousou direto na minha mesa? Por que o recado foi jogado para as mãos de outro?
— Obrigado, Diana. — digo seco e vou para o elevador com o peso do papel na mão. No pe