Quando uma carta acerta o lugar errado
ANDRÉ MARTINS
Chego na Cassani’s às 8h40. Sim, me atrasei — não queria vir hoje. Faz tempo que a empresa está de cabeça para baixo; desde que Lorenzo morreu, tudo desliza para um abismo cheio de gente com segredos. Entro no saguão com a gravata torta, os sapatos fazendo som seco no mármore, tentando convencer o próprio corpo de que trabalhar é opção e não destino.
— Bom dia, Diana. — Tento soar mais animado do que sinto.
— Bom dia, senhor André. Chegou uma correspondência para o senhor Leonardo Cassani. Pode entregar, por favor? — Ela me estende um envelope grosso, lacre vermelho com algo que brilha no meio: um anel com duas serpentes. O coração me acelera antes de eu entender por quê.
Pego o envelope. O peso do lacre me dá a sensação de que segurei uma pedra. O nome do remetente aparece nitidamente: Vittório Bianchi. Porra.
— O Leo não chegou? — pergunto.
— Ainda não. E a secretária dele não atende. Às vezes ele chega cedo, sabe? — Diana encolhe