O vento cortava meu rosto como lâminas, mas eu não diminuía o ritmo. Max galopava sob mim incansável, as patas batendo no chão seco como trovões. Eu só queria distância. Distância de Antônio, das mentiras, do olhar do meu pai, do peso que caía sobre mim como um mundo inteiro.
Meus olhos ardiam com as lágrimas que eu não conseguia conter. Cada respiração era um soluço engasgado, mas eu não parava. Eu não podia parar.
De repente, senti Max mudar o passo. O cavalo bufou, jogando a cabeça para trás, e começou a reduzir o galope por conta própria. Só então percebi onde estávamos: à frente, o terreno caía numa ribanceira profunda, o mato alto balançando com o vento.
— Calma, meu amigo… — murmurei, ainda ofegante, passando a mão no pescoço de Max. Desci devagar, minhas pernas trêmulas mal me sustentando.
Afastei-me do cavalo, que ficou imóvel, atento. Dei alguns passos à frente, até que minhas forças simplesmente falharam. Me joguei de joelhos no chão áspero, as mãos cravadas na terra.