A festa lá embaixo já tinha começado, mas eu continuava no quarto, enrolando para descer. Não que eu não tivesse amigos ali — Ana e sua família sempre me receberam com carinho, me tratando como parte deles — mas me sentir no meio daquela gente era outra história. Era como se todos pertencessem a um mundo do qual eu não fazia parte, e isso me deixava desconfortável. Talvez “angústia” não seja a palavra certa... é mais como estar deslocada, mesmo quando tento me vestir e agir como eles.
Vaidade nunca foi algo que me consumisse. Tenho meu orgulho, claro, mas acredito que por conta da minha criação, essas festas, esses luxos... não brilham tanto aos meus olhos. Estava parada diante da janela, observando as luzes no jardim imenso da casa de Ana, quando ouvi batidas leves na porta.
— Entre — disse, sem me mover. — Deve ser a Ana, de novo.
A porta se abriu e, em vez dela, passos firmes, mas tranquilos anunciaram Lucas. Pelo canto do olho vi quando ele entrou e soltou um assovio.
— Aqui e