Ximena Valverde Saber que Carlos foi vítima de algum sádico ou de um erro absurdo, trouxe dores que já estavam um tanto adormecidas. No entanto, eu não iria deixar a tristeza me dominar. Carlos merecia justiça e eu lutaria até o fim por isso.Sabia que meu estado de nervos estava fazendo Alejandro ponderar em me contar tudo o que sabia, mas ele tinha que entender que não podia esconder nada de mim. A família do Carlos e eu tínhamos todo o direito de saber quem foi o culpado por sua morte e de cobrar que essa pessoa fosse punida.— Ximena, não há culpados ainda. Primeiro, é uma investigação para saber quem abasteceu a aeronave com o combustível errado e só depois, teremos um indiciado e, se a polícia provar, aí sim, teremos um culpado. — ele me explicou com cautela.— E o plano de voo, foi assinado por quem? — Essa parte muito me interessava.— Eles ainda estão investigando isso.— É um papel, Alejandro, é só olhar a assinatura. — falei o óbvio.— Sim, o Sepúlveda está tratando de en
Alejandro Albeniz Com meu pai era desse jeito, tínhamos que deixar ele falar e falar e falar. Botar para fora todo tipo de asneira megalomaníaca que ele, em sua cabeça, achava mais do que normal. Entretanto, tudo tinha limite, uma linha tênue, e ele começou a cruzar essa linha quando insistiu em atacar a Ximena.— Na minha casa essa aproveitadora sem berço, essa cadela sem pedigree não entra!— A quem o senhor está chamando de cadela? Não me faça esquecer que o senhor é meu pai e fazê-lo engolir seus próprios dentes! — ele arregalou os olhos. — Está perdendo o juízo, a noção.— Não vou aceitar que me ameace dentro da minha própria casa. Exijo respeito!— Respeito não se exige, se conquista. E você perdeu o meu no momento em que ofendeu a mulher por quem eu me apaixonei. — acho que ele nunca pensou que eu diria algo assim, que estava apaixonado e justamente por uma qualquer no dito dele. Afinal, sua expressão não negava sua surpresa. — O senhor está idêntico a puta da sua mulher, porq
Alejandro AlbenizXimena não precisou me pedir duas vezes, apenas pedi para ela repetir, que era para ter certeza que eu ouvia certo. Sem pestanejar ou ter qualquer sombra de dúvidas, acatei com prazer seu pedido de ir morarmos juntos, a euforia tomou conta de mim, que até suportaria olhar para cara da minha família, desde que seja para eu pegar minhas coisas. Enfiei mais uma camiseta na mala e senti o zíper reclamar pelo volume de roupas contido ali dentro, mas não tinha tempo para pensar nisso. Analisei rapidamente ao redor, ódio correndo em minhas veias… Quarto enorme, closet cheirando a lavanda cara, tapete que afundava sob os pés de tão macio, e nada disso tinha gosto de lar. Hoje, menos ainda. Eu só queria meter tudo num saco de lixo, jogar no carro e sumir. Até que, antes que eu tivesse a chance de fazer qualquer outra coisa, atrás de mim surgiu Mercês. Seu salto fazendo clac‑clac no piso me dava nos nervos, parecia que cada passo dela criava eco nos meus ouvidos. Fosse a rai
Ximena Valverde Eram seis da manhã, por conta do inverno, ainda estava um pouco escuro. Acordei com o barulho do despertador, passei a mão por toda a extensão do colchão e Alejandro não estava mais ao meu lado na cama. Tinha um som de alguém fazendo esforço físico vindo do lado de fora e olhei pela janela. Alejandro fazia flexão batendo palma, lavado de suor, vestido com calça de moletom e sem camisa. — O que é isso? Seduzindo a vizinhança? — falei divertida, me aproximando de onde ele estava.— Bom dia… Amor! — me olhou e disse quase sem fôlego, mas continuou fazendo seu exercício.— Muito bom dia! Vou fazer nosso café. Alejandro ainda ficou um bom tempo lá fora se exercitando, deu tempo de fazer o café e me arrumar para o trabalho. Estava arrumando a mesa, quando ele saiu do banheiro de banho tomado, cheirando a sabonete, desodorante masculino e testosterona.— A louça é sua. — avisei.— Justo. Mas vou avisando que vou hoje mesmo comprar uma lava louça para essa casa. — Preguiço
Ximena Valverde No caminho para casa, vim reclamando com Alejandro. Aquele não era o momento de falar isso com meus pais. E o pior foi a reação do meu pai. Quando o senhor Pedro falava, falava e falava era sinal de que em algum momento tudo ia ficar bem. Entretanto, quando ele se calava, era porque ele ficou realmente chateado.Agora, sim, teríamos que ir à casa dos meus pais com mais calma e conversar com eles sobre como as coisas aconteceram. Porque mesmo sendo dona do meu nariz, não gostava de ver a decepção estampada no rosto do senhor Pedro.Alejandro entendeu que foi impulsivo, no entanto, ele estava mais interessado em saber como foi que me acidentei. Eu mesma estava muito confusa, porém, não iria ficar fomentando besteiras, nem eu sabia ao certo o que tinha acontecido. Não falei que achei ter visto o Iker e muito menos que parecia que o carro foi jogado em cima de mim de propósito. Em sua insistência em saber exatamente o que aconteceu, pois aparentemente não se convenceu da
Ximena ValverdeA campainha tocou e eu estranhei. Ninguém costumava aparecer ali sem avisar. Quando olhei pela janela ao lado da porta, vi uma mulher bonita, bem vestida, na faixa dos quarenta e cinco anos, com o cabelo preso num coque impecável, um cigarro entre os dedos e uma expressão de nojo ao olhar em volta.Imediatamente, ao olhá-la de cima a baixo, pois ela estava meio distante da porta, foi como se sobre minha cabeça se acendesse uma lâmpada, com uma memória desagradável: a esposa do senhor Albeniz. A mesma que, meses atrás, escancarou a porta da sala de reuniões da Granafly e me expôs como se eu fosse um troféu barato.Com o estômago revirando só de pensar em ter que olhar na cara dela, pensei que ela poderia ter vindo procurar o Alejandro, mas aí lembrei que ele tinha me dito que não avisou ao pai, nem a essa mulher para onde ia. Sem deixar de mencionar que era horário comercial, ela deveria imaginar que o enteado estaria na empresa, o que me deixou ainda mais curiosa sobre
Alejandro Albeniz Eu adiei demais essa conversa, agora corria o risco dela pensar que só contei porque iria ser descoberto, o que de certa forma, acabava sendo uma verdade, mesmo que eu já tivesse decidido contar a Ximena antes, mas acabei protelando e agora estava com a corda no pescoço.Entrei no quintal da casa e Lito veio feliz me receber, então lhe fiz um carinho, ele estava na sua nova casinha. Quando entrei na sala, vi o compilado de caixas dos utensílios que havíamos comprado e Ximena ao fundo da sala, de pé e feição destruída, olhos vermelhos e inchados, com os cabelos por trás das orelhas. Não queria imaginar o pior, foi só quando vi minhas malas à direita, jogadas ao chão, que confirmei que o que eu mais temia, tinha se concretizado.— Ximena, o que é isso? — perguntei, mesmo já sabendo do que se tratava.— Suas malas, seus utensílios críticos, não está reconhecendo? — mesmo visivelmente triste, ela usou de ironia.— Eu iria te contar, fiquei esperando o melhor momento. Ju
Ximena ValverdeEra inverno, mas a segunda-feira amanheceu abafada, pesada, como se o céu soubesse do que estava por vir. Acordei decidida. O fim de semana tinha servido para muita coisa, inclusive para entender que não podia continuar trabalhando lado a lado com Alejandro. Não depois de tudo o que descobri.Ao sair de casa, coloquei no carro todas as compras que Alejandro havia feito para mim e minha casa, sem nem me importar em arrumar direito. Minha vontade mesmo era de colocar tudo num saco e queimar no quintal, mas isso era pouco. Ele precisava ver com os próprios olhos que não podia me enganar. Não queria nada dele por aqui.Para caber toda a parafernalha elétrica que ele comprou, tive que deitar o banco do Terraco, principalmente as duas lavadoras, fui espremida no banco do motorista, a sorte foi que a marcha desse carro era no volante, senão estaria ferrada, não tinha espaço para nada.Quando cheguei à empresa, estacionei o carro de Alejandro na vaga dele. Uma provocação, talv