Início / Romance / Amor inacabado / Capítulo 3- A viagem
Capítulo 3- A viagem

O despertador tocou às 4h45, mas Ariana já estava acordada. A verdade é que ela nem chegou a dormir de verdade.

O apartamento no Leblon ainda estava envolto naquela penumbra elegante que só o bairro tinha ao amanhecer. Da varanda, ela ouvia o som abafado das ondas chegando na praia — um barulho familiar, aconchegante, que contrastava com o turbilhão dentro dela.

Ela cruzou a sala iluminada apenas pela luz da rua. O ambiente tinha o estilo dela: moderno, minimalista, cheio de peças assinadas, livros de moda e comunicação empilhados em prateleiras amadeiradas, uma paleta de cores suaves que dava a sensação de revista. Um apartamento com alma de protagonista — seu orgulho silencioso.

A mala estava aberta no tapete redondo de sisal.

Roupas dobradas com precisão milimétrica, frascos de skincare acomodados como jóias, e, ainda assim, tudo parecia insuficiente para preparar Ariana para o que a aguardava em Carapá.

— Só mais uma viagem — disse, sem muita convicção.

Mas o coração acelerado desmentia.

Ela se arrumou com seus movimentos calculados de sempre: coque alto, perfume fresco, gloss que oferecia só um brilho discreto. Chamou o carro pelo aplicativo e desceu pelo elevador panorâmico.

Quando a porta se abriu para o lobby, Ariana teve uma sensação estranha: como se estivesse deixando para trás não apenas seu lar, mas a versão lapidada de si mesma que construíra ao longo de tantos anos.

O aeroporto parecia um organismo vivo — luzes, vozes, malas, pressa.

Ariana se encaixou naquele caos com a naturalidade de quem viajava o tempo todo.

Comprou um café forte, mesmo sem fome, e se sentou perto do portão.

A equipe já estava reunida perto do portão de embarque: produtores, fotógrafos, roteirista, social media… e o videomaker novo que ela ainda não conhecia.

— Ariana Luna?

A voz veio por trás dela, leve, divertida.

Ela se virou — e o impacto foi imediato.

O homem parecia ter acabado de sair de uma capa de revista: cabelos castanhos ondulados, barba por fazer, sorriso largo, pele bronzeada, corpo forte, de quem corre, surfa e ainda acha tempo pra academia. Um estilo Cauã Reymond, mas com um ar mais acessível, mais quente, mais… perigosamente interessante.

— Samuel. — ele estendeu a mão. — Vou ser o videomaker da campanha. Já ouvi falar muito de você.

Ariana apertou a mão dele, profissional, mas um tanto surpresa.

— Espero que coisas boas. — respondeu, tentando esconder o nervosismo.

— Só as melhores. — ele piscou, brincalhão.

Era impossível não notar o charme. Todo mundo no grupo pareceu sentir a energia dele.

Ariana sorriu, mas algo dentro dela estava travado.

Ela não tinha cabeça para flertes.

Não hoje.

Não indo para Carapá.

Mas… se fosse em outra ocasião…

Ela sabia muito bem onde aquela química poderia levar.

NO VOO

Eles acabaram sentando na mesma fileira, como se o destino estivesse de sacanagem.

Samuel era o tipo de pessoa que fazia qualquer um se sentir à vontade. Falava com humor, tinha histórias engraçadas de viagens, um jeito leve, despreocupado, quase encantador. Ele tirou a câmera para ajustar umas lentes, e Ariana percebeu que ele realmente amava o que fazia.

— Você tá tensa. — ele observou, sem rodeios.

Ariana engoliu seco.

— Só focada no trabalho.

— Claro. — ele assentiu, mas os olhos diziam que ele não tinha acreditado totalmente. — Mas se precisar conversar… eu sou bom ouvinte. Pelo menos é o que minhas ex-namoradas falavam antes de me largar.

Ela soltou uma risada, apesar de si mesma.

— Você sempre assim?

— Bonito, simpático e sem noção? Sempre. — ele respondeu, com um sorriso tão aberto que até ela teve vontade de sorrir de volta.

Ariana desarmou um pouco.

Samuel tinha esse efeito.

CHEGADA A MANAUS

Assim que desceram, o ar quente e úmido envolveu todos. A equipe começou a se organizar em torno das malas e equipamentos.

O produtor avisou:

— Gente, daqui pegamos a van até o porto. Duas horinhas. Depois o barco pra Carapá. Tudo certo?

Todos assentiram.

Ariana sentiu o coração disparar.

Carapá.

Agora era real.

Samuel se aproximou enquanto caminhavam até a van.

— Primeira vez na Amazônia?

Ela hesitou, depois respondeu:

— Não. Eu… nasci aqui, em Carapá,mais precisamente.

Os olhos dele brilharam, genuínos.

— Sério? Então você vai ser minha guia turística particular. Eu aceito. — sorriu, animado.

Ariana tentou sorrir de volta, mas o peito apertou. Apesar da simpatia, do charme, da leveza dele… ela só conseguia sentir a sombra do passado se aproximando.

NA ESTRADA

A van seguiu por uma estrada estreita, ladeada por uma parede infinita de árvores. A equipe conversava animada no fundo; Samuel editava algo no laptop ao lado de Ariana, mas sempre fazia algum comentário engraçado que arrancava uma risada dela.

Eles estavam se conectando.

Ele estava interessado.

E ela… não conseguia pensar em nada agora!

— Sabe… — ele disse, olhando para ela pela primeira vez com um pouco mais de profundidade — você tem um olhar de quem tá voltando pra um lugar onde deixou alguma coisa importante.

Ariana prendeu a respiração.

— Algo assim. — murmurou.

Samuel não insistiu — e isso a fez gostar ainda mais dele.

NO PORTO

Quando chegaram, o sol já começava a baixar. O rio tinha aquele brilho dourado que Ariana lembrava da infância, mas que tentou esquecer por tantos anos.

O barco os esperava, com espaço improvisado para as malas, equipamentos e a equipe inteira.

Samuel colocou a mochila nos ombros e ofereceu a mão para ajudá-la a entrar.

— Cuidado aqui… a madeira escorrega.

Ariana segurou a mão dele — quente, firme — e sentiu um frio subir pela espinha.

Algo estava mudando. E ela não sabia se estava pronta.

O motor do barco ligou, e a embarcação começou a cortar o rio. A paisagem se abriu diante dela.

Verde. Água. Céu. Silêncio.

O coração de Ariana batia tão forte que ela quase ouviu.

— Bem-vinda de volta à Amazônia — Samuel disse, ao seu lado.

Mas ela sabia que a frase verdadeira seria outra:

Bem-vinda de volta à sua história. E ao homem que você tentou esquecer.

Como será que ele está? E será que ele ainda está por lá... as perguntas estavam na sua cabeça.

Logo, logo ela ia saber, porque se ele estivesse, não teria como eles não se encontrarem!

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App