Mundo ficciónIniciar sesiónA viagem de barco parecia interminável.
Seis horas pelo Rio Anauã, serpenteando entre igapós, matas fechadas e aquele silêncio úmido que grudava na pele como lembrança. Para Ariana, contudo, não foram seis horas — foram anos inteiros comprimidos ali, no balanço do casco cortando a água. A cada curva do rio, o peito apertava mais. Quando finalmente avistaram Carapá, já era noite. Mas não a noite que Ariana lembrava. - Chegamos, anunciou o barqueiro. Carapá estava diferente... — Uau… — murmurou Ariana, surpresa. Não esperava nada daquilo. Era como voltar à infância… mas uma infância reformada, pintada, organizada. Estranha. Familiar e não familiar. Samuel se aproximou, jogando a mochila no ombro. — Olha só… civilização. — murmurou Samuel ao lado dela, impressionado. — Tá com cara de quem viu um fantasma — provocou ele, encostando leve no braço dela. Ariana sorriu sem graça. — É só… diferente do que eu lembrava. — Diferente bom ou ruim? Ariana soltou um meio sorriso. — Na minha época, a gente descia rezando pra não cair na lama. — Eu teria amado ver isso. — ele brincou. A verdade é que… ela também teria amado ver Samuel num cenário daqueles. Mas antes que pudesse responder, o barco finalmente encostou. O porto que ela lembrava — um pedaço de terra batida, onde as pessoas pulavam na água para não molhar a mala — não existia mais. No lugar, havia uma ponte de madeira nova, escadas decentes e uma área de ancoragem iluminada por vários postes solares. Um pequeno guichê de passagens, com uma placa escrita à mão, completava a cena. E, claro, os moleques carregadores, sempre presentes, agora com camisetas laranjas combinando. Profissionalismo à moda Carapá! Ariana soltou um meio sorriso. — Na minha época, a gente descia rezando pra não cair na lama. — Eu teria amado ver isso. — ele brincou. A verdade é que… ela também teria amado ver Samuel num cenário daqueles. Mas antes que pudesse responder, Lívia, a produtora e única mulher da equipe além dela, surgiu carregando uma bolsa maior que ela mesma. — Amiga, pelo amor de Deus, nunca mais me bota num barco desses! — reclamou, dramática. — Se esse rio balança mais um centímetro, eu vomito até minha certidão de nascimento. Ariana riu. Lívia tinha esse dom: deixar tudo mais leve. Era divertida, rápida, e já tinha puxado para si o posto de melhor amiga da Ariana, desde que começaram a trabalhar juntas. Elas duas amavam uma noitada de curtição, amavam dançar e se divertir. Mas a Lívia odiava correr e tinha um corpo nada atlético, ele preferia dormir até tarde e comer cachorro quente no café da manhã. — E olha — continuou Lívia, sussurrando enquanto encarava Samuel com aquele olhar analítico de quem sabe das coisas —, o bonitão aí não desgrudou o olho de você a viagem inteira. Depois me conta se você vai… explorar o rio com ele hoje à noite, se é que me entende. Ariana bufou, rindo. — Lívia, pelo amor de Deus. — Ah, desculpa, é que a imaginação corre solta com tanto calor úmido… — piscou. Atrás delas vieram os outros da equipe: • Rogério, o produtor-chefe, extremamente sério e organizado até a alma. • Cacau, o assistente de som — expansivo, debochado e gay assumidíssimo, já criando intrigas internas com seu humor ácido. • E Dudu, o drone-pilot quieto, que só falava com a câmera. Assim que pisaram na ponte, Cacau colocou a mão no peito dramaticamente. — Senhor, dai-me forças para não dar em cima do Samuel na frente do povo ribeirinho. Eu não quero causar um apagão moral na cidade na primeira noite. Samuel, rindo: — Pode dar em cima, Cacau, não me assusto fácil. — Gato AND seguro de si? — Cacau abanou-se. — Ariana, pelo amor, agarre esse homem antes que eu agarre. Lívia sussurrou no ouvido de Ariana: — Te falei. Todo mundo já percebeu que ele te quer! Ariana tentou ignorar. Samuel realmente era interessante. Em outro momento da vida, talvez… Mas não agora. Havia fantasmas demais naquela água. Quando finalmente chegaram à única pousada da cidade, Ariana parou, surpresa. Pousada Vista Verde. O letreiro era o mesmo, mas gasto, meio torto. A pintura descascada. A varanda florida já não tinha tantas flores. E ali, atrás do balcão, estava ela. Amanda. A rainha do bullying da adolescência. A menina perfeita: pele clarinha, cabelos ondulados sempre brilhantes, e corpo de revista. A menina que vivia chamando Ariana de “matutinha”, “selvagemzinha”, seca vara pau... Mas… aquela Amanda não existia mais. A mulher à frente da pousada parecia cansada. Os cabelos, antes sedosos, estavam armados, ressecados. Havia engordado — não de um jeito feio, mas de um jeito real, humano, da vida que pesa. As olheiras profundas falavam de noites mal dormidas. E as roupas simples denunciavam uma rotina de luta, não glamour. — Bem-vindos à Pousada Vista Verde — disse Amanda, forçando um sorriso profissional. Quando os olhos bateram em Ariana, o semblante travou. — …Ariana? — Oi, Amanda — respondeu Ariana, com um sorriso educado, quase inocente… mas com uma pontada de satisfação escondida. Porque, ao contrário dela, Ariana estava linda. Mais linda do que jamais havia sido: madura, elegante, iluminada. — Nossa… você… mudou — murmurou Amanda, surpresa. E antes que conseguisse controlar a língua, completou: — Pensei que tivesse… sumido da vida. — Pois é. Às vezes a vida surpreende a gente — respondeu Ariana. Samuel, percebendo a tensão, se aproximou protetoramente, colocando a mão de leve nas costas dela. Amanda viu. Amanda entendeu errado. Amanda arregalou os olhos Ah! Vocês… são um casal? — perguntou, numa voz que misturava choque, ciúme e veneno — tudo ao mesmo tempo. Ariana ia responder, mas Samuel falou primeiro, brincando: — Ela não admite, mas está caidinha por mim. Ariana quase engasgou. — O quê?! Samuel! Amanda sorriu. Um sorriso torto, daqueles que dizem: “Mal chegaram e já tenho o que fofocar.” Vocês querem um quarto de casal ou separados? A frase caiu como uma bomba. Ariana arregalou os olhos. — Amanda, não somos um cas— — Casal, quarto de casal. — Samuel interrompeu, com uma piscadela debochada para Ariana, só para provocá-la. Amanda, nós não— — Fica tranquila, Ari. — Amanda cortou, a voz melosa. — Não precisa esconder de mim. Samuel, né? Ela jogou um olhar demorado para ele, que sorriu educadamente. — Bonito ele. Tem bom gosto, menina. Ariana quase engasgou. Samuel, por outro lado, parecia se divertir. — Ah, eu também acho ela maravilhosa. — disse ele, com naturalidade. Ariana o encarou com um olhar mortal que só fez ele rir mais. O estrago, no entanto, já estava feito. Livia viu que a confusão estava ficando grande e sabia de toda o receio da amiga com o retorno, então resolveu se intrometer. - A Ari vai ficar comigo, no " quarto das meninas, você Samuel, para não ficar solitário, pode ficar com o Cacau, falou e deu uma risadinha debochada! e ainda completou: - Sei que quer a Ari só para você, mas esses dias que passaremos aqui, amigo, ela é minha, até porque precisamos repassar algumas coisas da campanha, e faremos isso agora a noite, já que amanhã já precisamos começar a gravar. O Samuel entrando na brincadeira respondeu: Acho que Cacau tá ótimo para mim, eu tenho a vida toda para ficar com a Ari né querida? Ele não sabia o que rolava entre Ari e Amanda, mas já sabia o suficiente, que a Ariana nasceu e cresceu em Carapá e que o tom e o olhar da dona da pensão para ela não era bom. Então fez questão de ela saber que ela tinha quem a defendesse, e ainda aproveitou para jogar na cara da Ariana o seu interesse por ela. Ariana tava atônita com toda aquela cena, mas quer saber ela só queria ir logo deitar e sair dali, só disse, então tá resolvido 3 quartos - Eu e a Livia em 1, o Samuel e o Cacau em outro e o Rogério e o Dudu em outro. - Amanda, pode nos fornecer as chaves por favor? completou. Amanda separou 3 chaves e entregou a eles, logo a Ari pegou a dela e chamou Livia,vamos amiga, temos muito trabalho a fazer ainda, quando ela ia pegar a mala o Samuel parou ela, pode ir, eu levo as malas de vocês. A Livia, logo disse, claro galã, esperamos nossas malas no quarto, brigadinha. A Ariana resolveu só não brigar mais e falou, obrigada. estamos subindo então. Amanda estava brilhando por dentro — era visível. A ex-rival mal podia acreditar que Ariana voltava para Carapá…linda, poderosa e supostamente acompanhada de um homem lindo. E Ariana sabia exatamente o que acontecia em cidades pequenas: meia hora. Era o tempo suficiente para essa história se espalhar. E, pior ainda… Talvez Eduardo fosse saber disso antes mesmo de ela colocar os pés na rua no dia seguinte. Ariana sentiu um arrepio. A viagem mal tinha começado. E Carapá já estava cumprindo a promessa: NÃO ia facilitar nada para ela.






