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4. Prisões douradas e mapas sombrios

A mansão Rossi, antes um lar de conforto e privilégio para Sabrina, transformara-se numa prisão de veludo e mármore. As ordens de seu pai, Lorenzo, ecoavam em seus ouvidos com a dureza do aço: proibida de se aproximar do Centro Comunitário Novo Amanhã, proibida de continuar sua "investigação perigosa" sobre a Progresso Empreendimentos S.A. Seguranças discretos, mas onipresentes, agora monitoravam seus passos, suas ligações, até mesmo seus visitantes. Eleonora, sua mãe, tentava mediar, o coração dividido entre a preocupação genuína com a segurança da filha e o reconhecimento da chama de justiça que ardia nos olhos de Sabrina.

"Seu pai só quer protegê-la, querida," Eleonora argumentava suavemente, durante um dos muitos cafés da manhã tensos. "Este Dr. Bastos, esta incorporadora… eles parecem ter mais poder do que imaginamos. E você ser seguida… isso não é coisa de amadores." "E devemos nos curvar ao poder deles, mamãe?" Sabrina retrucou, a voz baixa, mas carregada de uma indignação que não se abalava. "Deixar que destruam uma comunidade inteira por pura ganância? Eu não posso. Não vou."

Naquela mesma manhã, em segredo, usando um antigo laptop que Beatriz havia "limpado" e tornado irrastreável, Sabrina contatou a amiga. O pequeno escritório da fundação, antes seu refúgio de idealismo, agora se tornara seu quartel-general clandestino dentro da própria mansão. "Eles me colocaram numa gaiola, Bia," Sabrina desabafou, a frustração evidente. "Mas não vou desistir. Precisamos continuar cavando. Esse Arnaldo Bastos… ele é a chave."

Enquanto Sabrina lutava contra as grades de sua prisão dourada, Leonardo, o arquiteto das sombras, iniciava sua própria e intrincada jornada no labirinto do Banco Rossi & Filhos. A ordem de Don Costello era clara: as plantas, os sistemas de segurança, cada detalhe que pudesse ser usado para violar o coração financeiro da cidade. Era uma tarefa monumental, e Leonardo sentia o peso dos olhares da famiglia sobre si – a expectativa calculista do Don, a vigilância fria de Tulio, a inveja rosnante de Rocco.

Ele passou dias mergulhado numa rotina de observação metódica, quase invisível. Disfarçado como um corretor de imóveis avaliando propriedades vizinhas, como um turista curioso com uma câmera fotográfica, ou simplesmente como mais uma sombra na multidão que fluía pelas calçadas do centro financeiro. Cada ângulo do edifício do banco era estudado, cada entrada e saída, cada veículo de transporte de valores, cada rotina dos seguranças. Anotava os horários de troca de turno, os modelos das câmeras de vigilância, a frequência das rondas policiais na área.

Percebeu rapidamente que a segurança física do Banco Rossi era formidável, uma sinfonia de tecnologia de ponta e protocolos rígidos. Mas a verdadeira fortaleza, ele sabia, residia nos sistemas digitais, nos servidores que guardavam as plantas arquitetônicas detalhadas, os diagramas dos sistemas de alarme, as senhas de acesso aos níveis mais profundos do edifício. Invadir aquilo exigiria mais do que força bruta; exigiria uma astúcia cirúrgica, uma compreensão profunda de redes e firewalls que ia além do conhecimento da maioria dos criminosos comuns. Era um desafio que o atraía, que testava os limites de sua inteligência multifacetada.

Seus contatos no submundo, aqueles que ele cultivara ao longo dos anos antes de se apresentar aos Costello, forneceram fragmentos de informação: a empresa de segurança terceirizada que prestava serviços ao banco, os tipos de software que utilizavam, os nomes de alguns técnicos de nível médio que poderiam, talvez, ser "persuadidos" ou explorados. Cada peça era um grão de areia, mas Leonardo era paciente, construindo seu castelo de informações com a meticulosidade de um artesão.

Do outro lado da cidade, a investigação de Sabrina e Beatriz também avançava, ainda que aos tropeços. Beatriz, com sua genialidade digital, conseguira penetrar algumas camadas superficiais da Horizonte Capital, a empresa por trás da Progresso Empreendimentos. "É um emaranhado de offshores, S.," Beatriz relatou, durante uma chamada de vídeo criptografada. "Nomes de diretores que são claramente testas de ferro. Mas consegui rastrear algumas transações vultuosas, pagamentos a 'consultorias' de fachada que parecem ser canais para propinas a figuras políticas. E o Dr. Bastos… ele é o maestro dessa orquestra de corrupção aqui. Encontrei registros de viagens frequentes para paraísos fiscais, aquisições de imóveis incompatíveis com a renda dele. Ele é sujo, muito sujo."

Mas eram apenas indícios, fumaça sem o fogo da prova concreta. "Precisamos de algo mais, Bia," Sabrina insistiu. "Algo que possamos usar para pará-los. Para salvar o Novo Amanhã." Foi então que Beatriz descobriu um nome: Helena Ribeiro. Uma ex-secretária executiva da Progresso Empreendimentos, demitida há cerca de um ano sob circunstâncias "misteriosas", que tentara, sem sucesso, processar a empresa por assédio moral e práticas ilegais. Seu processo fora arquivado rapidamente, abafado pelo poder dos advogados da incorporadora. "Talvez ela saiba de alguma coisa, S.," Beatriz sugeriu. "Talvez ela tenha guardado alguma prova, algum documento."

A ideia acendeu uma chama de esperança em Sabrina. Encontrar Helena Ribeiro, convencê-la a falar. Era arriscado, especialmente com seu pai monitorando seus passos. Mas a imagem das crianças do Novo Amanhã, o desespero de Dona Lurdes, a arrogância de Bastos… tudo isso a impelia a agir.

Leonardo, em sua própria caçada, identificara um possível ponto de entrada para os sistemas do banco. Não seria fácil. Envolveria explorar uma vulnerabilidade num dos fornecedores de software de segurança do banco, uma empresa menor, menos protegida, que tinha acesso remoto a certas atualizações do sistema Rossi. Significaria hackear o fornecedor primeiro, usar esse acesso como um cavalo de Troia para penetrar nas defesas do banco. Exigiria tempo, recursos que ele ainda não tinha totalmente à disposição dentro da famiglia Costello, e uma discrição absoluta. Um único erro, e o alarme soaria, não apenas no banco, but no mundo sombrio do Don.

Ele precisava de um local seguro para operar, de equipamentos específicos. E precisava fazer isso sem que Rocco, sua sombra constante e indesejada, percebesse a verdadeira natureza de seus movimentos. Don Costello lhe dera uma missão, mas não os meios explícitos para cumpri-la, deixando que ele se virasse, mais um teste de sua iniciativa e de seus "recursos singulares".

Enquanto Leonardo traçava seu plano audacioso, Sabrina, usando uma desculpa sobre um trabalho voluntário num hospital (um dos poucos lugares onde seu pai ainda permitia que ela fosse, desde que acompanhada por um segurança da família), conseguiu despistar seu acompanhante por alguns preciosos minutos e encontrar Helena Ribeiro. A ex-secretária morava num apartamento modesto, os olhos marcados pelo medo e pela resignação. "Progresso Empreendimentos? Dr. Bastos?" Helena estremeceu ao ouvir os nomes. "Moça, você não sabe onde está se metendo. Eles são perigosos. Destruíram minha carreira, minha reputação… quase minha vida." Sabrina sentiu um arrepio, mas persistiu. "Eu sei que é arriscado, Dona Helena. Mas eles querem destruir uma comunidade inteira. Crianças, idosos… Eu preciso de ajuda para pará-los. Qualquer informação, qualquer documento que a senhora possa ter…" Helena hesitou, o medo lutando contra uma antiga centelha de indignação. Finalmente, ela se levantou e foi até um armário velho, de onde tirou uma pequena caixa de sapatos. "Eu guardei algumas coisas," ela disse, a voz baixa. "Cópias de e-mails, de memorandos internos… coisas que mostram as ordens de Bastos, as pressões, as negociatas por baixo do pano." Ela entregou a caixa a Sabrina. "Mas tome cuidado, menina. Eles não brincam em serviço. Se descobrirem que você tem isso…"

Sabrina agradeceu, o coração batendo forte com a mistura de triunfo e terror. Ela tinha algo. Provas. Mas ao sair do prédio de Helena, sentiu novamente aqueles olhos invisíveis sobre si. O mesmo carro escuro da outra vez estava parado na esquina, o motor ligado. Desta vez, porém, não apenas a seguiram. Quando ela virou numa rua mais deserta, o carro acelerou, fechando-a. Dois homens saíram, rostos duros, sem dizer uma palavra. Um deles arrancou a caixa de sapatos de suas mãos com violência, enquanto o outro lhe dava um aviso sibilante: "Fique longe do que não é da sua conta, patricinha. Ou da próxima vez, não será apenas uma caixa que você vai perder."

Eles entraram no carro e desapareceram, deixando Sabrina sozinha na calçada, trêmula, humilhada, mas com uma fúria fria crescendo em seu peito. Eles a haviam subestimado. Haviam roubado suas provas, sim. Mas também haviam acabado de declarar guerra à pessoa errada.

Enquanto isso, Leonardo, em seu esconderijo temporário, um quarto alugado sob um nome falso, começava a montar o equipamento que conseguira através de um contato obscuro. A caçada pelas plantas do Banco Rossi estava prestes a entrar em sua fase mais crítica. E ele, assim como Sabrina, sabia que estava entrando num território onde cada passo poderia ser o último. Os dois, em seus mundos paralelos de sombras e segredos, estavam agora em rota de colisão não apenas com seus inimigos, mas com seus próprios limites.

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