O motor da viatura ronca constante enquanto seguimos pela estrada. As ruas da cidade ainda estão começando a acordar, mas minha mente já corre em ritmo de operação.
Estou no banco do passageiro, o colete firme contra o peito, a pistola na cintura, o rádio chiando frases curtas e códigos familiares. A farda ainda tem cheiro de nova, mas o peso é o mesmo de antes — talvez até maior agora.
— Vai falar com o Portulla direto? — pergunta o Batista, com as mãos firmes no volante, os olhos atentos à estrada.
Assinto, sem desviar o olhar da frente.
— Sim. Quero ver a reação dele. Saber até onde está disposto a ir.
Batista solta um riso baixo, sem humor.
— Esse cara é um fantasma. Nem preso perde o controle. Tem gente lá dentro que bate continência para ele e nem percebe.
— Por isso mesmo estou indo. Quero ver até onde ele aguenta o jogo quando alguém muda as regras. Quero ver a cara dele ao saber que agora eu tô solto, de volta à polícia — e ele, trancado.
Batista me lança um olhar de canto.