A sala do tribunal é gelada. Não pela temperatura, mas pela atmosfera. Parece que todo mundo ali respira com cuidado, como se qualquer movimento pudesse quebrar alguma coisa. Estou sentada na primeira fileira reservada às testemunhas, entre Ayla e Dona Helena. As mãos estão geladas, mesmo com o calor do meu corpo queimando por dentro.
Meu nome já foi chamado, mas ainda não subimos. Antes de mim, outras pessoas vão falar. Meu estômago revira. Tento não olhar para os lados, mas é impossível.
Quando meus olhos encontram os dele, sinto o chão tremer sob os meus pés. Samuel está ali, sentado na parte destinada aos réus, usando uma camisa branca simples, sem as algemas, mas com dois oficiais ao lado. Ele está pálido. O rosto mais magro. O olhar... vazio. Mas assim que me vê, alguma coisa muda. Não é culpa. Não é tristeza. É só... dor. Pura dor.
Viro o rosto rápido, como se aquilo me queimasse.
No banco de trás, Murilo está sentado com o olhar cravado em mim. Ele quer que eu olhe. Quer me l