Nos dias seguintes, a casa entra num ritmo diferente. Não exatamente calmo, mas focado. Ayla acorda cedo todos os dias, prepara café, senta comigo na varanda e me obriga a falar, a lembrar, a organizar as ideias. Ela diz que precisa ser assim, que quando a audiência chegar, eu não posso travar. Tenho que estar firme. Eu tento. Mas algumas lembranças ainda ardem demais.
— Vamos de novo. — diz ela, sentada de frente pra mim, com um caderno na mão. — O que você sentiu quando acordou e percebeu que tinha sido sequestrada? Desde o início.
— Desconfiança. Medo. Raiva, depois. Mas no começo… eu não queria acreditar. Achei que estava ficando louca. — respondo, olhando para o chão.
Ayla anota algumas palavras no caderno, como se isso fosse parte de uma estratégia judicial. Na verdade, é só o jeito dela de me ajudar a organizar os pensamentos. Ela não é advogada, mas é a única pessoa do mundo que sabe tudo que vivi. Até os silêncios.
— Tá, e depois… o cativeiro. Quando as coisas mudaram?
Penso