O caminho de volta parece mais longo do que foi para chegar ao mirante. A venda sobre os meus olhos intensifica tudo, o som das motos, o cheiro da noite, o aperto no peito. Sinto o corpo de Chapoca à minha frente, rígido, guiando a moto com firmeza. Mas não é dele que quero proximidade agora. Quero o calor de Samuel, o toque da mão dele, o beijo que ficou pela metade.
Quando finalmente paramos e a moto desliga, Chapoca me ajuda a descer. Ele tira a venda com um cuidado quase mecânico, sem me encarar. Meus olhos ainda estão se ajustando à luz quando vejo Samuel se aproximando com o cenho franzido, apoiando-se levemente na parede como quem tenta parecer mais forte do que está.
Dona Helena está à porta, de braços cruzados, olhos preocupados se revezando entre o filho e eu. Há algo no ar, algo que ela também sente, mas não diz.
— Pode subir, Jade — Samuel diz, a voz baixa. — Eu já vou.
Assinto, mas o encaro por um instante. Ele está ali, mas a cabeça parece distante, ocupada demais com o