Mais dois dias se passaram desde a gafe que cometi ao tentar beijá-lo. Dois dias. E eu ainda estou presa nesse inferno, nesse labirinto sem fim. Não aguento mais o peso dessa culpa, dessas crises, dessa angústia. Não lembro muito bem daquela noite, como se tivessem apagado tudo da minha mente. Só me resta a imagem de Dona Helena tentando me acalmar, o eco da sua voz, os olhos preocupados. Esses sinais confusos me assombram, mas não me dou ao luxo de compreendê-los agora. Não posso.
Dessa vez, ele não me evita. Não desapareceu, não se escondeu. É ele quem tenta se aproximar, tentar falar comigo, mas sou eu quem o ignora, quem se desvia, quem finge que ele não está ali. Meu coração ainda está marcado pela dor, mas sei, no fundo, que ainda o desejo — uma sensação amarga que me corrói.
Almoçamos juntos, na mesma mesa. O silêncio entre nós é tão denso que quase posso tocá-lo. Chuck não aparece há dias, o que me alivia de certa forma, mas o que acontece entre nós dois parece irremediável. O